segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Canto da quarta-feira de cinzas

De volta, em pleno Carnaval...
O Carnaval é um planeta especial , no qual as pessoas se comportam também de maneira inusual.Todos se divertem numa orgia de solidão acompanhada.Tem-se a impressâo de que tudo é alegria... e que somos um bloco único onde todos se amam e vivem o êxtase do contentamento.
...Mas existe a quarta-feira- de- cinzas (que aqui na Bahia demora mais de se apresentar) e resta apenas o confete numa fantasia suada, amassada e abandonada...não serve para o ano seguinte.
Quem não participa dessa loucura coletiva sente-se em outro planeta e procura o que fazer, para também sentir-se vivo.
Eu, da minha parte, venho conversar com vocês... é mais gratificante.


Antes do beija-flor entrar no nosso circuito, falávamos de AMOR...Talvez valha a pena continuar no tema (só mais um pouco).
No meu segundo livro escrevi algo que passo para vocês.
Um poema que descreve um amor que morre de "morte morrida". Não há trauma, não há drama, não há nada que gere tragédia... É apenas uma constatação.


FIM
Um amor que desmorona
é ave abatida em vôo
mas que não morre do tiro
- não imediatamente.
Cai no chão e agoniza,
a vida esvaindo aos poucos.

Se debate, busca o ar,
da garganta, gritos roucos.
Já não vê os horizontes
descortinados em vôo.
Perdeu o ar puro dos montes.
Já não encontra saída.

Hemorragia incontida
faz sucumbir o alento.
Tudo vai ensombrecendo
na dor que o martiriza.
As forças se retirando
numa lenta agonia...

A desistência chegando
como um anjo que socorre,
trazendo alívio ao tormento.
A ave entende o momento.
Vê que é chegado o tempo,
se acalma...suspira...e morre.


Mas nem sempre as coisas acontecem tão docemente.
Há casos e casos... Há quem seja abençoado ( ou amaldiçoado) com sentimentos bem mais exacerbados... e é aí que a coisa pega!
Observem o que acontece com quem vê seu amor, seu apaixonamento, guilhotinado em pleno auge. A maldição do poeta é colocar em palavras o que deveria ficar sendo um segredo somente seu.
Encontrei essa poesia, que achei admirável...mas não gostaria de viver esse sentimento por demais dilacerante. Gostaria de tê-la escrito sem ter passado por tal tsunami...o que é absolutamente impossível!

Blues Fúnebres
Wystan Hugh Auten

Que parem os relógios, cale o telefone.
Jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais.
Que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do esquife com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima , em alvoroço,
escrevam contra o céu, o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto - um laço no pescoço -
E os guardas usem finas luvas cor de breu.

Era meu norte, sul, meu leste, meu oeste,enquanto
viveu. Meus dias úteis, meu fim de semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
Quem julga o amor eterno, como eu fiz, se engana.
É hora de apagar as estrelas -são molestas-
Guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.





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