domingo, 29 de novembro de 2009

FALAR... OU CALAR...

Não sei se os meus queridos leitores já transitaram por Budapest, o livro.
Não o li, mas vi, em DVD, o próprio Chico lendo as primeiras páginas da sua história.
Fiquei intrigada com o personagem que escrevia seu romance na pele das mulheres que se envolveram com ele. Insólita idéia! Mas...refletindo melhor, onde são escritas as palavras a não ser no corpo, e sobretudo na alma, de quem as lê?

E a Palavra tem uma força estupenda!
Que tal uma experiência?

Você que me lê, agora, escreva em um dos seus braços a palavra VENENO... e no outro a palavra BÁLSAMO... e esperemos o resultado.

Seria delírio esperar da pele reações diferentes? Não creio!
Caso a pele não se expresse de maneira perceptível, provavelmente a alma o fará.

Teste novamente: de um lado a palavra BEIJO, do outro a palavra DESPREZO...
O resultado será devastador!

Daí, imagino que, ser prudente no uso das palavras é sinal de Sabedoria.

Lao Tsé continua atualíssimo:
É preciso ser " atento como o homem que cruza o rio em pleno degelo, depois do inverno".
Ou " prudente como quem temesse o seu vizinho".

Tenho me dedicado, nesses dias, a "pensar" as palavras, e por isto reservo-me de escrevê-las.
A Palavra carrega em si o peso ou a leveza do seu mistério.
Quase repetindo J. Velloso, que disse: "Um beijo vale pelo que contém" , eu digo:
Uma palavra vale pelo que contém.

Palavra-adaga: golpeia, mutila...até mata!
Palavra-água: sacia, conforta, salva...ou afoga?
Palavra-unguento: bálsamo, alivia, acalma...ou vicia!
Palavra-guia: informa, aponta, orienta...ou desvia?
Palavra-algema: submete, imobiliza...acorrenta!
Palavra-guizo: alegra, festeja, liberta...ou avisa?
Palavra-garra: caça, fisga, persegue, prende...Sufoca.
Palavra-gozo: inebria, embriaga, fascina, domina
...e toma posse!

Talvez, mais expressivo que a palavra seja o SILÊNCIO.
Permitam-me passear no silêncio, como diria Paulinho da Viola :

Silêncio, por favor,
enquanto esqueço um pouco a dor no peito,
não diga nada sobre os meus defeitos,
eu não me lembro mais quem me deixou assim...

Hoje eu quero, apenas,
uma pausa de mil compassos...
.....................................................
Quem sabe de tudo não fale,
quem não sabe nada se cale !
Se for preciso eu repito:
Hoje eu quero apenas, uma pausa de mil compassos...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Mª Bethânia x J. Velloso

Pois muito bem...
A pedido, lançarei aqui as impressões sobre uma noite deveras especial:
O show de Maria Bethânia, ao qual tive o imenso prazer de assistir, embora, participar mesmo, ficou um pouco difícil: ficamos na fileira Z10, ou seja, penúltima fila do enooooorme Teatro Castro Alves. Se me foi dado o direito de enxergar algo, devo-o ao binóculo que me foi emprestado por alguém que conseguiu melhor localização.

Mas, valeu, e muito!
Maria Bethânia em fase intimista, modulando voz de travesseiro, nos faz acreditar que, aquilo que ela canta, sai da nossa própria alma.
Poucos músicos, nenhum excesso, nem no cenário,nem no figurino...apenas a confiança na própria interpretação, no excelente repertório, nos arranjos do seu confidente musical, o maestro Jaime Alem. Tudo perfeito.

As músicas, muitas, dos seus dois CDs recém lançados: TUA e ENCANTERIA.
Mas não s
ó... Cantou também aquelas que fazem parte da sua própria história de moça interiorana, certamente ( e ela sempre o registra) aprendidas com Canô, a inigualável!
Há o momento em que a musa distinque a própria Mãe como a responsável pelo nome creditado ao show: Amor...Festa...Devoção...Teria sido,e continua sendo, esta a orientação que Canô passa para os filhos como método de viver bem a Vida.
Gostei e concordo...contanto que a devoção tenha larga significação, não implicando nem em discriminações, nem em preconceitos...

Após o show nos arriscamos a ir até o camarim. Aqui , dizem, é fácil...ela sempre atende os mais corajosos que se arvoram em se aproximar da estrela.

Mas, após longa espera, uma boa turma foi desiludida. Motivo: Canô lá estava e ia jantar...o que demandaria largo tempo. Se alguém quis insistir, não sabemos...Nós desistimos. Uma pena! Pela primeira vez eu teria feito uma tietagem deste quilate.

Não há o que reclamar. Conheci e bati um bom papo com J. Velloso, um compositor que faz parte da família privilegiada pelas musas do Olimpo. Já conhecia as suas composições e tinha muita curiosidade em conhecê-lo...Consegui, e adorei!
Também falei , pouco, mas foi legal, com o Jaime Alem. Em resumo, tietei!...

Fotos?! Aí a coisa pegou! Quis bater uma de Canô e só consegui registar uma pernas desconhecidas: A Senhorinha é muito baixinha, e envolvida por uma quase multidão,
resultou em um fracasso fotográfico (Anabel,preciso de aulas!!!).

Rejane salvou a noite: bateu foto da Matriarca e de J. Velloso comigo...e só!

Um destaque: a preferência pelos compositores baianos:
Dori Caymmi, Saul Barbosa, Jorge Portugal, Capinam, J. Velloso e outros maravilhosos, todos constantes no seus novos CDs. Vale adquirir, sem medo de errar!

Eu adoro esse pessoal que nos aponta o lado mais gratificante da vida, mesmo que nem sempre seja o lado mais colorido! O meu segundo livro lhes concede o crédito dos meus momentos mais felizes.
Aos meus companheiros de viagem, letristas, músicos, intérpretes, astros desse meu Brasil carente de glórias, POETAS, SERESTEIROS, o meu eterno agradecimento!

Sem sair do assunto nem do sentimento que vivo agora, devo colocar, também a pedido, uma poesia que faz parte do livro " A longa viagem..."

Receita para fazer poemas

Para criar poemas é preciso
se perder em pensamentos.
Não ter medo de estar só.
Não esquecer nunca
de quedar-se triste...ou radiante.

Ouvir Vinícius é fundamental
(na voz de Bethânia, o ideal).
Banhar-se em Chico, aos borbotões
e ler Fernando até dormir.

Pronto.
Aí o berço em que a criança vai nascer.
E a alma brasileira vem
na madrugada se contar
- é o momento das musas em ação.

Claro, há receitas mais sofisticadas.
Mas esta é bastante
para deixar a alma enluarada.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ODE AO CAOS

É preciso estar sempre agradecida
e, no momento, ao Caos,
me dobro, enternecida.

Não aquele caos dos infernos,
desagregador, dispersor,
tirânico, assassino,
causador de impiedosas implosões.
Mas aquele caos divino
de onde surgiu a vida.

O caos das milhares de palavras
aprendidas desde a infância,
palavras que, arrumadas,
dizem alguma coisa...ou tanto!
...cofre onde posso recolher,
em confiança, a expressão,
às vezes tosca, do que preciso dizer.

O caos dos ritmos desencontrados
da existência...
O caos profundo e transcendental
de sentimentos ainda não revelados.
O caos de histórias superpostas,
de amigos acumulados
na mágica des-ordem do tempo.
Na fúria desconcertante
de dores inexplicadas, o caos doído.

O caos de cores alucinadas,
no redemoinho dos ventos,
arco-íris em surpreendente movimento...
O caos de glórias misturadas
aos tormentos.
O caos da vida comum
repleta de inesperados.

O caos inacreditável
do esterco que renasce
em suave perfume e cores.
O divino caos do orgasmo,
gerando a homeostase.
O caos da melancolia,
mãe de serena poesia.
No monturo, o caos é pai
de abóboras e melancias.

O caos de Hesíodo,
espaço vazio entre o céu e a terra.
A força cósmica, onde,
por primeiro, Deus se revelou.
Lá se forjou o panteão
de tantos deuses secundários
que, ainda hoje, satisfazem
as ânsias da humanidade.

O caos
que o fanatismo da Ciência,
adepta da ordem e da repetição,
baniu, alijou e, por pouco, não matou.
Guardado no inconsciente
o caos se aprimorou...
E em Arte ele se tornou.

O caos intuitivo,
feminino, criador...
Útero do magnífico,
transcende a compreensão.
Olhares para a razão,
só pelo retrovisor.
O caos , as fronteiras desconhece.

No oceano do caos, sonolento,
o ato criativo espreita a sua hora...
e explode quando menos se espera.
É lá que a imaginação
ininterruptamente trabalha
...e nunca falha.

No caos, os lagos serenos
transbordam em cataratas
gerando energia, luz,
trazendo esperança, força,
criando revoluções,
reorientando a História.

E daí?

Ao mundo desencontrado
o caos não propõe a ordem,
nem o controle opressivo,
pior, a dominação...

O caos propõe a anarquia

do respeito às diferenças...
às infinitas possibilidades...
Propõe criatividade,
Propõe a compreensão,
Propõe a múltipla escolha,
Propõe a divina alquimia
da interpenetração.
União de céu mais terra...
Soma de contradições.
E ver a alma do mundo
deslizar na inspiração,
processando a ascenção,
cavalgando a transição.


Se, em algum momento, a tua vida te parece um caos...Calma! É que, apenas, estás vivo!

No fervilhar dos acontecimentos há um algo maior em gestação..."Nada se assemelha tanto a uma destruição quanto uma construção." já dizia o poeta e filósofo Michael Quoist.

Nenhuma grande conquista se faz sem dispensar um, também grande, esforço.

É preciso paciência... Viver é muito perigoso ( J.G. Rosa)

Uma lição que venho aprendendo :

Em tempo de espera

Se bates à porta
da pergunta sem resposta...
Se buscas o como?
o por quê?
o quando?
o onde?
o para quê?
e não encontras
o que esperas conhecer...Calma!
Não invadas o desesperar.

Espera!
Estás vivendo
um momento precioso em que
a inteligência
a mente
a alma
ou o sentimento
se debruça sobre a fonte do saber
e, com cuidado, deseja
saciar a própria sede.

Ensina Rilke:

Ama o tempo da pergunta!
Ama a pergunta!
Ama aquilo que em ti,
penosamente, quer se desvencilhar...

Ama a tua ansiedade
de enxergar além,
de ver mais longe,
de dar à criança que há em ti
a chance de desvendar
aquilo que a impede de crescer.

E, assim, estarás preparado,
certamente,
para o glorioso momento da resposta.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Poetas… e eu

Já comentei, sem medo de errar:
Talvez, hoje, o que mais me agrada é estar em contato com poetas...esclareço que a maioria deles já retornou ao Olimpo.

Haverá,
ainda,
no mundo,
coisas tão simples
e tão puras
como a água bebida
na concha das mãos?

Mário Quintana

Suponho que sim ...Aquele que não se condena por beber de maneira tão infantil, tão ingênua, tão simples e tão primitiva.

Moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia
Vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia.

Paulo Leminsky

Em noites de boemia
é fácil criar poesia...
Sobram-me as noites...
Falta-me a boemia.

Dinah

Nunca cometo o mesmo erro
duas vezes.
Já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez.

Paulo Leminsky

Um erro cometido
2, 3, 4, 5...mil vezes,
talvez não seja um erro.
Talvez seja um acerto
em um baile de máscaras.

Dinah


Eu grito daqui
Você grita daí
Quem berrar mais alto
é que tem razão

O Rebelde


Não exijo ter razão
Destarte, não grito.
Prefiro falar baixinho
vestindo-me, ou não, de razão.

Dinah

Quero muito que venha o dia em que TODOS falem em ritmo de poesia...

Calmamente, espero... Sou teimosa! Vem comigo!