quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ODE AO CAOS

É preciso estar sempre agradecida
e, no momento, ao Caos,
me dobro, enternecida.

Não aquele caos dos infernos,
desagregador, dispersor,
tirânico, assassino,
causador de impiedosas implosões.
Mas aquele caos divino
de onde surgiu a vida.

O caos das milhares de palavras
aprendidas desde a infância,
palavras que, arrumadas,
dizem alguma coisa...ou tanto!
...cofre onde posso recolher,
em confiança, a expressão,
às vezes tosca, do que preciso dizer.

O caos dos ritmos desencontrados
da existência...
O caos profundo e transcendental
de sentimentos ainda não revelados.
O caos de histórias superpostas,
de amigos acumulados
na mágica des-ordem do tempo.
Na fúria desconcertante
de dores inexplicadas, o caos doído.

O caos de cores alucinadas,
no redemoinho dos ventos,
arco-íris em surpreendente movimento...
O caos de glórias misturadas
aos tormentos.
O caos da vida comum
repleta de inesperados.

O caos inacreditável
do esterco que renasce
em suave perfume e cores.
O divino caos do orgasmo,
gerando a homeostase.
O caos da melancolia,
mãe de serena poesia.
No monturo, o caos é pai
de abóboras e melancias.

O caos de Hesíodo,
espaço vazio entre o céu e a terra.
A força cósmica, onde,
por primeiro, Deus se revelou.
Lá se forjou o panteão
de tantos deuses secundários
que, ainda hoje, satisfazem
as ânsias da humanidade.

O caos
que o fanatismo da Ciência,
adepta da ordem e da repetição,
baniu, alijou e, por pouco, não matou.
Guardado no inconsciente
o caos se aprimorou...
E em Arte ele se tornou.

O caos intuitivo,
feminino, criador...
Útero do magnífico,
transcende a compreensão.
Olhares para a razão,
só pelo retrovisor.
O caos , as fronteiras desconhece.

No oceano do caos, sonolento,
o ato criativo espreita a sua hora...
e explode quando menos se espera.
É lá que a imaginação
ininterruptamente trabalha
...e nunca falha.

No caos, os lagos serenos
transbordam em cataratas
gerando energia, luz,
trazendo esperança, força,
criando revoluções,
reorientando a História.

E daí?

Ao mundo desencontrado
o caos não propõe a ordem,
nem o controle opressivo,
pior, a dominação...

O caos propõe a anarquia

do respeito às diferenças...
às infinitas possibilidades...
Propõe criatividade,
Propõe a compreensão,
Propõe a múltipla escolha,
Propõe a divina alquimia
da interpenetração.
União de céu mais terra...
Soma de contradições.
E ver a alma do mundo
deslizar na inspiração,
processando a ascenção,
cavalgando a transição.


Se, em algum momento, a tua vida te parece um caos...Calma! É que, apenas, estás vivo!

No fervilhar dos acontecimentos há um algo maior em gestação..."Nada se assemelha tanto a uma destruição quanto uma construção." já dizia o poeta e filósofo Michael Quoist.

Nenhuma grande conquista se faz sem dispensar um, também grande, esforço.

É preciso paciência... Viver é muito perigoso ( J.G. Rosa)

Uma lição que venho aprendendo :

Em tempo de espera

Se bates à porta
da pergunta sem resposta...
Se buscas o como?
o por quê?
o quando?
o onde?
o para quê?
e não encontras
o que esperas conhecer...Calma!
Não invadas o desesperar.

Espera!
Estás vivendo
um momento precioso em que
a inteligência
a mente
a alma
ou o sentimento
se debruça sobre a fonte do saber
e, com cuidado, deseja
saciar a própria sede.

Ensina Rilke:

Ama o tempo da pergunta!
Ama a pergunta!
Ama aquilo que em ti,
penosamente, quer se desvencilhar...

Ama a tua ansiedade
de enxergar além,
de ver mais longe,
de dar à criança que há em ti
a chance de desvendar
aquilo que a impede de crescer.

E, assim, estarás preparado,
certamente,
para o glorioso momento da resposta.


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