sábado, 12 de dezembro de 2009

Fernando Pessoa…e um encontro na Tabacaria

Minha nossa!

Tudo que escrevi há alguns dias passados (ANO NOVO), me pareceu algo otimista…uma mensagem cheia de vontade de viver e de buscar o positivo da vida…E de admirar, na palma da mão, o faiscar das gemas que encontramos ao caminhar.

Porque as encontramos, sim!

Mas, em alguém, para minha surpresa, o texto provocou efeito contrário.

(Ah, Aline, a Dichte, a densa, minha amiga!…)

Despertei em Aline um sentimento de perplexidade e desconsolo. Escreveu-me ela, e pediu-me que publicasse. (Meu respeito à bipolaridade da vida concordou!) Pelo que eu percebo é a vida a causa primeira, o princípio básico, a razão inicial do transtorno bipolar.

Eis Aline:

“Sinto muito não acompanhar você em seus sentimentos. Aliás, não sinto nada!

Ou melhor, sinto!…com Fernando Pessoa:

  • Não sou nada.
  • Nunca serei nada.
  • Não posso querer ser nada.
  • À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
  • …………………………………………….
  • Falhei em tudo.
  • Como não fiz propósito nenhum,talvez tudo fosse nada.
  • ……………………………………………..
  • Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
  • Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
  • E há tantos que pensam a mesma coisa , que não pode haver tantos!
  • Gênio?
  • Neste momento cem mil cérebros se concebem, em sonho, gênios como eu,
  • E a história não marcará, quem sabe, nem um.
  • ………………………………………………….
  • Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
  • Tenho apertado no peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
  • Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
  • Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda , ainda que não more nela.
  • ……………………………………………………
  • Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta, ao pé de uma parede sem porta.……………………………………………………
  • Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
  • O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
  • e o resto que venha, se vier,ou tiver que vir, ou não venha.
  • ……………………………………………………..
  • Meu coração é um balde despejado.
  • Como os que invocam espíritos invocam espíritos,
  • eu invoco a mim mesmo e não encontro nada.

…e este Fernando Pessoa me fez declarar, em instante, não amargo, mas…lúcido:

  • Não posso desligar o som.
  • Se o fizer, escuto o respirar,
  • o que pode me fazer acreditar que vivo, o que não é verdade.

  • Como pode estar vivo quem nada tem a esperar?
  • Quem passeia em nebulosas sem sentido,
  • Quem, diante do mistério, não o consegue decifrar?
  • Quem, ao nascer, foi carimbado:”MORTO”

  • Quem, embora ande, coma, durma,
  • não passa de um aborto que sonha que está vivo
  • e se espanta ao não se abrirem portas quando ele passa desejando entrar…

Amiga minha, agora quem fica desolada sou eu…não te quero assim…

Mas, se te consola um pouco, quero dizer que te compreendo.

Também eu (e creio que todos nós) tenho os meus momentos de lucidez…que brilham em noite escura:

E o “velho” Fernando esclarece:

Fiz de mim o que não soube

E o que podia fazer de mim não o fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era

e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,

estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi no espelho,

já tinha envelhecido.

Nem o próprio poeta vive eternamente neste sentimento de ”condenação ao degredo”.

Tem ele, seus impulsos bastante entusiastas:

Depois de amanhã serei outro,

A minha vida triunfar-se-á,

Todas as minhas qualidades de inteligente, lido e prático

serão convocadas por um edital…

Então vamos pular o amanhã e nos envolvermos diretamente com o depois de amanhã!!!

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