domingo, 31 de janeiro de 2010

Com Mário Quintana, retorno à POESIA

Não são necessários muitos dias longe do assunto primordial desse blog - A POESIA -
para que eu sinta uma tremenda saudade... a falta da Poesia me provoca uma incontrolável "crise de abstinência".
Mário Quintana vem aqui me devolver o equilíbrio:

EMERGÊNCIA

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.

E mais :
" Fora do ritmo, só há danação
Fora da poesia não há salvação." (M.Q.
)

Quanto à forma de paginar os poemas, o poeta é bem claro:

"Os livros
de poemas devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enchê-las de desenhos - gatos, homens, aviões, luas, pontes, automóveis, cachorros, cavalos, bois, tranças, estrelas - que passarão a fazer parte dos poemas".
E, se algum espaço sobrar, que possa um poeta utilizá-lo... e escrever palavras que lhe venham a transbordar, carregadas de sentimentos e incontidas emoções.
E ali deixar gravado o que o instante inesperado lhe sussurrou num incontrolado impulso.
Eu, da minha parte, tenho usado e abusado desses claros...
Grata, poeta amigo, pelo espaço liberado!

Preciso agradecer, de público,
AO POETA

Bendigo cem mil vezes o poeta
que diz de mim o que
nem eu mesma sei dizer.

Passeia pela minha alma e vê.
Vai bem fundo,descobre, aprecia,
desvela...e anuncia.

Põe a nu a minha alma morta,
a minha alma triste,
a minha alma cheia de alegria.

Que bruxo é esse que expõe ao sol
o que, cheia de pudor, eu escondia?
De longe vem para me conhecer
e revelar quem sou.

Me assusta essa magia louca:
tirar de mim palavras que não disse,
palavras que jamais chegaram
à minha boca,
pois revelar-me é algo que não posso.

Embora falando
em nome de si mesmo,
é por mim que ele canta
e muitas vezes chora.

Vai, poeta amigo,
espalha pelos ventos teu poder,
Mas não reveles nunca este segredo nosso.

Nem sempre eu sou tão generosa em relação aos fantasmas que bisbilhotam o mais íntimo de cada um. E reajo!

A espreita


Não dou chance
ao fortuito fantasma
que me acompanha
(e que sou eu mesmo).
Vive a me espionar.
Espera o momento
em que eu baixe a guarda.
Pensa descobrir
o que não quero revelar.
(Vai cansar...)


Seu olhar, fixo em mim,
eu finjo não perceber.
Ele se finge casual...
Mas não é!


Como felino à espreita da caça
a qualquer momento ele salta
e romperá o tênue véu
que encobre a minha intimidade
(...é o que ele pensa?!)

Verá! Eu sou mais Eu!


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