quarta-feira, 28 de abril de 2010

Eyjafjallajokull,UM ESPETÁCULO !



Há dias, e dias, e dias que não nos encontramos... e aí deu SAUDADE !

Foram dias em que minha terra se afogou em lágrimas do céu, e, sem dó nem piedade, as terras correram, as casas das encostas desabaram, as famílias ficaram desabrigadas, a tristeza e o desalento atingiram, com maior intensidade os mais desvalidos e os mais economicamente fragilizados. Até aí nenhuma novidade. Já sabemos que é sempre assim...a corda quebra sempre do lado mais fraco. Além do mais, tempestades e enchentes não chegam a ser produtos recém lançados no mercado...ao contrário, são fenômenos bens comuns.

Entre os fatos que ocuparam a imprensa falada, escrita, e sobretudo televisionada, e que deixaram as pessoas em real estado se choque, (pelo menos na minha forma de entender as coisas) eu destaco A SOMBRA !
Dificilmente costumo assistir televisão...somente em ocasiões especiais eu me planto frente à telinha. E dessa vez eu estarreci! Aquela nuvem cobrindo o céu, diferente de qualquer nuvem que eu já tivesse visto, devido ao tamanho e ao compacto da sua textura, caminhando lentamente pelo espaço, como se tivesse a intenção de fazê-lo desaparecer para sempre...Um cobertor com o aparente peso de uma montanha de pedra querendo dominar o espaço...um monstro silencioso avançando pelos céus, absorvendo a limpidez e o azul que antes costumavam imperar tão naturalmente, dava-me a impressão de que nada jamais seria como antes... Aquilo me parecia uma condenação...uma ameaça...o início de uma nova era de negror e tristeza, da qual não seria mais possível escapar.

As consequências que advieram daquele fenômeno, não melhoraram em nada o sentimento de absurdidade que me envolvia tão intensamente.
O céu estava fechado! A ninguém era dado o direito inalienável de passear pelo espaço, direito conquistado desde Santos Dumont. Se, em algum momento os caminhos celestes ficaram fechados, isto se dava por pouco tempo e em espaços restritos. Agora, não! Ali se encontrava o inaudito, o espantoso, o inacreditável!

E, o mais incrível: a camada da população atingida! Humilhados, atônitos, sem direito sequer às exigências e reclamações às quais sempre se acharam, por direito hereditário, capacitados.
Ali estavam "os poderosos", numa situação incabível no seu cotidiano.
O primeiro mundo se encontrava, literalmente, no CHÃO!

Consequente ao sentimento de impotência, somente uma solução : esperar...

Apenas UM vulcão provocou a pane mundial...E eles são milhares...
E eu fiquei refletindo sobre o real poder da natureza... e como somos insignificantes diante da sua grandeza!

Um Espetáculo

Pobre planetinha, outrora azul...
Sob pressão
de revoltado estômago,
ele vomita!
...E ele racha.
E suas entranhas vermelhas de sangue
rompem a terra
e se lançam aos ares.
Em cada canto a explosão da dor,
gerando dor...e dor...somente dor...
ou olhos estarrecidos e extasiados
diante do inaudito!

São oceanos de revolta intensa.
Já não se encontra o planetinha azul
sob espantoso cinzento cobertor.
E o gigante,
cuja mágoa explode,
se atormenta
em estertores ígneos,
em ondas espetaculares,
suores, suspiros e tremores
que emergem
de um peito torturado.

São urros de animal ferido.
Seu grito não é mais que
um brado de socorro
que ecoa pelos céus,
na solidão e silêncio dos ouvidos moucos.
- Ninguém ouve!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

...e lá vou eu...

...pela imensidão do mar...

Uaaau!!!!
Aqui estou a bordo de um Delta Yachts 36 pés - o "Jaguar" dos veleiros nacionais. Aviso a quem quer ser navegante que não é preciso comprar um, basta ter amigos que o possuam...Eu tenho!
Lindo dia, o veleiro singrando as águas da Baía de Todos os Santos, rumo à ilha de Itaparica, ou seja, a extensão da Ilha da Fantasia que é Salvador. Tudo prometia ser um fim de semana de 1ª qualidade.
O conforto da "nave marítima" era patente. Seus 4 metros de largura comporta bancadas, almofadas, um painel de controle beirando aqueles das naves espaciais, rádio, GPS, TV, som. O maior orgulho da família-proprietária é o ar condicionado em todo o interior da nave - e foi exatamente isto que me fez adiar o meu encontro com o novo equipamento de lazer...detesto ar condicionado! Dormir em ambiente "super-gelado"? Ughh!!!
Mas vamos à minha aventura...
Viagem serena, céu lindíssimo, a silhueta da cidade de Salvador, ao longe, quase "fechando" o horizonte .Uma beleza!

O dia transcorreu maravilhoso e foi encerrado em uma pizzaria , na marina.Tudo ótimo.
Na volta quis tomar um banho. Banheiro, (menos de um metro quadrado! ) com vaso sanitário, pia, bancada para os cosméticos, alguns pequenos armários embutidos...e chuveiro(com água quente!). Um pouco apertado...mas tudo bem. E agora, onde coloco a roupa que tirei? E a que vou usar? e a toalha? Aos poucos vou solucionando os questionamentos...questão de jeito!
Devidamente higienizada (ou quase),decidi: vou dormir no lado de fora, chamado cockpit (pensava que era convés),- inveja dos fórmula-um???. Mas onde?! a bancada tem somente 50 cm. de largura, é para sentar, e não para dormir! Mas eu insisto. A noite está linda, o céu é um cobertor de estrelas, e uma lua quase cheia clareia tudo com luz difusa ( que não é a do abajour lilás embora se aproxime de...)
Poderia dispensar a enorme profusão de luzes que vêm do cais. a meu ver desnecessárias, entretanto elas atendem à segurança dos usuários...sinal dos tempos perigosos que estamos vivendo. Tudo funciona a contento. Minha filha sugere que dentro do barco o conforto é maior. Dispenso. Sou aventureira acostumada com tempo duro e tudo me parecia muito molinho. O mundo estava em paz.
Os onze metros de comprimento do veleiro acomodava com conforto os viajantes: na proa cabiam 2, no "salão" central devidamente transformado em dormitório, cabiam 3, (um deles seria EU,que me recusei, por motivos óbvios.) E o "leito nupcial", na popa, é um arrazo: cabiam mais de QUATRO !
Eu preferi o céu (quase) aberto. Um toldo vai me cobrir caso haja mudança no tempo.Nos recolhemos. Uma portinhola dividida em duas me separava do resto da turma. Se eu precisasse poderia transpô-la e entrar.
- Não. Obrigada. Não será necessário!

Tudo era tão bonito que o sono não vinha.
Depois da meia-noite um forte chuvisco me obrigou a levantar para retirar as toalhas que secavam penduradas no "guarda-mancebo" (!!!). Eu o chamaria "protege-criança" de cair no mar, e somente para as pouco travessas, pois para as MUITO travessas só há uma solução:"Homem ao mar!"
Para impedir que as toalhas se molhassem, eu me molhei toda! Tudo bem.
Voltei à minha "cama", ajeitei o travesseiro (alto demais, estou habituada com o meu, bem baixinho) e ainda enfrentei mais três chuviscos semelhantes. O que não vi é que corria um filete de chuva para ensopar, subrepticiamente, o meu travesseiro ! Tudo bem...me consolei com as toalhas quase secas.

A noite tinha cor inesquecível e a luz do ancoradouro iluminava alguns veleiros e seus reflexos na água serena pediam para serem transformados em maravilhosa marina pictórica.Daria um excelente quadro! Já não queria dormir...tava bom assim! E aí...veio vontade de fazer xixi. Tentei abrir a tal portinhola. Não consegui.Tudo bem.
Um simples xixi não iria poluir o Oceano Atlântico!
Mas, gente! Nessa hora desejei ser homem que possui torneirinha própria. Foi meio difícil, mas consegui. Ufff!!! Acho que agora posso dormir. E então um balde de água caiu do céu de uma vez e quase me afoga. Ridículo! Um oceano aos meus pés e eu me afogo com água celeste!
FIM do 1º Capítulo


Por fim consegui deslocar a tal portinhola e entrei no barco...ou seria a SIBÉRIA ?
Ninguém pode imaginar o drama: roupa molhada, cabelo molhado, travesseiro encharcado e um frio que vinha do início dos tempos a congelar tudo!
Como eu invejei os esquimós!
Dizem que o iglu é "quentinho"...pelo menos mais quente que o lado de fora. Aqui é o contrário!!!
Mesmo com o risco de virar picolé consegui dormir (ou desmaiar) por uns dez minutos antes que o sol acordasse. Foi aí que João ( dez anos) acordou e com ele acordou todos os ruídos possíveis e imagináveis no ambiente...eram seis horas da madrugada... e nada mais pôde ser feito, a não ser descobrir que toda minha bagagem tinha sumido ( bolsa, sacola, escovas, sabonete, óculos escuros...) na transmutação noturna, ocorrida no ambiente...Paciência.Tudo bem!

Continua no próximo capítulo.