segunda-feira, 5 de abril de 2010

...e lá vou eu...

...pela imensidão do mar...

Uaaau!!!!
Aqui estou a bordo de um Delta Yachts 36 pés - o "Jaguar" dos veleiros nacionais. Aviso a quem quer ser navegante que não é preciso comprar um, basta ter amigos que o possuam...Eu tenho!
Lindo dia, o veleiro singrando as águas da Baía de Todos os Santos, rumo à ilha de Itaparica, ou seja, a extensão da Ilha da Fantasia que é Salvador. Tudo prometia ser um fim de semana de 1ª qualidade.
O conforto da "nave marítima" era patente. Seus 4 metros de largura comporta bancadas, almofadas, um painel de controle beirando aqueles das naves espaciais, rádio, GPS, TV, som. O maior orgulho da família-proprietária é o ar condicionado em todo o interior da nave - e foi exatamente isto que me fez adiar o meu encontro com o novo equipamento de lazer...detesto ar condicionado! Dormir em ambiente "super-gelado"? Ughh!!!
Mas vamos à minha aventura...
Viagem serena, céu lindíssimo, a silhueta da cidade de Salvador, ao longe, quase "fechando" o horizonte .Uma beleza!

O dia transcorreu maravilhoso e foi encerrado em uma pizzaria , na marina.Tudo ótimo.
Na volta quis tomar um banho. Banheiro, (menos de um metro quadrado! ) com vaso sanitário, pia, bancada para os cosméticos, alguns pequenos armários embutidos...e chuveiro(com água quente!). Um pouco apertado...mas tudo bem. E agora, onde coloco a roupa que tirei? E a que vou usar? e a toalha? Aos poucos vou solucionando os questionamentos...questão de jeito!
Devidamente higienizada (ou quase),decidi: vou dormir no lado de fora, chamado cockpit (pensava que era convés),- inveja dos fórmula-um???. Mas onde?! a bancada tem somente 50 cm. de largura, é para sentar, e não para dormir! Mas eu insisto. A noite está linda, o céu é um cobertor de estrelas, e uma lua quase cheia clareia tudo com luz difusa ( que não é a do abajour lilás embora se aproxime de...)
Poderia dispensar a enorme profusão de luzes que vêm do cais. a meu ver desnecessárias, entretanto elas atendem à segurança dos usuários...sinal dos tempos perigosos que estamos vivendo. Tudo funciona a contento. Minha filha sugere que dentro do barco o conforto é maior. Dispenso. Sou aventureira acostumada com tempo duro e tudo me parecia muito molinho. O mundo estava em paz.
Os onze metros de comprimento do veleiro acomodava com conforto os viajantes: na proa cabiam 2, no "salão" central devidamente transformado em dormitório, cabiam 3, (um deles seria EU,que me recusei, por motivos óbvios.) E o "leito nupcial", na popa, é um arrazo: cabiam mais de QUATRO !
Eu preferi o céu (quase) aberto. Um toldo vai me cobrir caso haja mudança no tempo.Nos recolhemos. Uma portinhola dividida em duas me separava do resto da turma. Se eu precisasse poderia transpô-la e entrar.
- Não. Obrigada. Não será necessário!

Tudo era tão bonito que o sono não vinha.
Depois da meia-noite um forte chuvisco me obrigou a levantar para retirar as toalhas que secavam penduradas no "guarda-mancebo" (!!!). Eu o chamaria "protege-criança" de cair no mar, e somente para as pouco travessas, pois para as MUITO travessas só há uma solução:"Homem ao mar!"
Para impedir que as toalhas se molhassem, eu me molhei toda! Tudo bem.
Voltei à minha "cama", ajeitei o travesseiro (alto demais, estou habituada com o meu, bem baixinho) e ainda enfrentei mais três chuviscos semelhantes. O que não vi é que corria um filete de chuva para ensopar, subrepticiamente, o meu travesseiro ! Tudo bem...me consolei com as toalhas quase secas.

A noite tinha cor inesquecível e a luz do ancoradouro iluminava alguns veleiros e seus reflexos na água serena pediam para serem transformados em maravilhosa marina pictórica.Daria um excelente quadro! Já não queria dormir...tava bom assim! E aí...veio vontade de fazer xixi. Tentei abrir a tal portinhola. Não consegui.Tudo bem.
Um simples xixi não iria poluir o Oceano Atlântico!
Mas, gente! Nessa hora desejei ser homem que possui torneirinha própria. Foi meio difícil, mas consegui. Ufff!!! Acho que agora posso dormir. E então um balde de água caiu do céu de uma vez e quase me afoga. Ridículo! Um oceano aos meus pés e eu me afogo com água celeste!
FIM do 1º Capítulo


Por fim consegui deslocar a tal portinhola e entrei no barco...ou seria a SIBÉRIA ?
Ninguém pode imaginar o drama: roupa molhada, cabelo molhado, travesseiro encharcado e um frio que vinha do início dos tempos a congelar tudo!
Como eu invejei os esquimós!
Dizem que o iglu é "quentinho"...pelo menos mais quente que o lado de fora. Aqui é o contrário!!!
Mesmo com o risco de virar picolé consegui dormir (ou desmaiar) por uns dez minutos antes que o sol acordasse. Foi aí que João ( dez anos) acordou e com ele acordou todos os ruídos possíveis e imagináveis no ambiente...eram seis horas da madrugada... e nada mais pôde ser feito, a não ser descobrir que toda minha bagagem tinha sumido ( bolsa, sacola, escovas, sabonete, óculos escuros...) na transmutação noturna, ocorrida no ambiente...Paciência.Tudo bem!

Continua no próximo capítulo.


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