sábado, 26 de junho de 2010

Em dia de Aniversário



Novamente a areia da ampulheta cumpriu sua função de marcar o tempo.
Olhos no calendário. Mais um ano se esgota no cálice da vida e a incontrolável dupla tentação mais uma vez se apresenta: medir, contar, avaliar e, pior ainda, qualificar os dias que se foram...ou, sob outro enfoque, querer estabelecer metas para o próximo ano que ora bate à porta. Bobagem em ambos os impulsos.
Melhor não abrir champanhe para nenhum dos dois casos...pode ser um gasto inexpressivo e inútil.
Mais de uma vez já declarei que convém exorcizar

A BALANÇA
Para refletir a própria história
melhor usar o bom senso:
Distância da balança da justiça.
Aqueles dois pratos rigorosos
que, sem condescendência,
são juiz do acontecido.
Tribunal sem misericórdia,
sem contemplação, impiedoso,
contabiliza o sim e o não,
medindo e pesando o que passou.

Em um dos pratos,
os gloriosos momentos...
No outro prato o desengano,
a dor, o sofrimento,
todos os mistérios dolorosos.
E a síntese da história
ali se vê retratada
trazendo trágico carimbo
marcado pelo selo do irremediável.

Ali não cabe
nem mesmo o arrependimento,
território vedado à esperança.
Pra que medir e contar o que navega
no oceano do sem jeito?
Para que reviver desilusões
erros, desencantos, desencontros,
decisões calcadas na estupidez?

Tampouco convém confiar demais no
Vir- a- ser
Por ínfimo que seja o vir-a-ser,
é lá que se projetam as possibilidades.
De lá podem surgir compensações.
No que virá se forja o talvez.
Lá o imponderável,
o imprevisível,
o inesperado,
talvez tramando alguma teia...
Talvez boa notícia...
Sem que o saibamos, o inaudito...
Quem sabe...talvez...

As inferências alcançadas podem invalidar muitas ilusões

Que vida?
Quantos dias cabem
no alforje que carrego às costas?
Quantos passos medem
as pegadas que deixei pra trás?
Qual o peso do ar
que desde sempre respirei?
Por quantos toques o pulsar
deste triste coração
já anunciou que vive?

Será que vivo?
Será que tenho vivido
todo o tempo e o espaço que percorri?
Tantos foram os dias
cobertos por mortalha...
Tantos foram os passos
que levam a lugar nenhum...
Tantos foram os soluços entrecortando
e impedindo a inspiração...
O coração tantas vezes louco,
ao ritmo de tambores fúnebres.

Contabilizando assim, vivi tão pouco!

No entanto, se alguém precisar de estímulo, resta um último consolo, uma provocação:

Talvez

Grandes são os desertos? - Sim!
Tudo é deserto? - Talvez...
Talvez...possibilidade entre o sim e o não...
Movimento entre o erro e o acerto.
Resistência frente ao ir e vir.
Dúvida que consome o passo ...
O deserto aí está...
São grandes seus espaços,
imensa a sua solidão,
tremenda a ausência da certeza,
lento o momento da decisão...
Mas provocante é a proposta
do alcance das lonjuras do horizonte...
a oferta da viagem,
embriagador convite à aventura,
o desafio de encontrar o oásis
...superando o desconcertante
encontro com a miragem.

Então vamos acender a velhinha, digo, velinha do bolo e iluminar os dias que se seguirão! Cantem comigo mais uma primavera (!) conquistada...







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