sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Amor de muitas faces

Há semanas tenho estado do alto de tribunas virtuais (no seu antigo conceito pré-computador), colocando-me sempre contra ou a favor de alguém, ou de alguma coisa. Cansei. Essa tarefa de advogar causas indefensáveis é realmente cansativa.

Já exercer a tarefa da promotoria é mais fácil. Condenar parece-me mais prazeroso , ou os malditos “fuxicos” (ti-ti-tis) não fariam tanto sucesso.

Proponho-me, hoje, a escrever uma Crônica sobre o Amor, afinal , há muito tenho deixado de lado o mais   antigo dos temas.

Como um diamante lapidado em mil faces ou uma estrela de mil pontas, o Amor fulge de mil formas.

Cabe ao poeta desenhá-lo, vivendo-o ou não. E, com delicadeza, anunciar o que vê, em si, ou em outrem.

O cronista, um voyeur inveterado, aproveita-se de um hipotético buraco de fechadura e flagra o poeta. Por sua vez, o poeta, não se sabendo observado, deixa-se flagrar.

Em razão dessa série de coincidências surge esta crônica. É o que se vê.Trata-se de uma crônica recheada de poesias ( não saberia fazê-la diferente), mas é uma crônica.

A princípio lhes apresento o amor sem par, o amor ímpar, como diria Chico Buarque, aquele amor que espera o parceiro…

Levanto cedo. Com o sol.
Momento de ir ao jardim colher as flores.
Ritual cotidiano.
Uma liturgia…Uma ou duas flores.
Mais que isto é uma sangria.
Com elas enfeito os jarros,
sabendo que, à noite, estarão murchas e sós.
A casa fica linda…
Recolho as folhas secas que estão
sobre as cadeiras da varanda, a noite as trouxe.
Perfeito!
O café cheirando na chaleira.
O pão quentinho no forno.
Tudo pronto.
A rede se embalança, feliz, à brisa da manhã.
Com certeza espera alguém.
A espera se estende além do tempo.
O tempo escorre feito lágrimas
dos olhos, sem pressa.
O café desiste de cheirar.
O pão esfria.
A rede para, sob o escaldante sol do meio-dia.
A noite chega, fria.
As flores estão murchas e sós
…e eu também.

Quem sabe pela espera infrutífera, o poeta sente-se envolvido pela desistência:

Há um tempo para suportar,
um limite para resistir.
Depois de ali, o Hades,
Depois de ali, o Nada.
Já não se sente
o pulsar da vida.
Já não se acende
o brilho do olhar.
O des-esperar
sufoca qualquer esperança.
Nas mãos vazias
nem sequer lembranças.
No tempo interno
apenas o inverno.
Foi tão intensa e longa a espera
que matou definitivamente
a primavera.

Mas não se esgota aí a multiplicidade amorosa. Vejamos o amor quando é pensado de mansinho:

Talvez a grande ventura seja
olho no olho
mão na mão
o resto , pura ilusão.
Ansiar por flores e cores,
apenas ópio,
jeito de anestesiar o ócio,
jeito de escapar à dor,
jeito de esconder de si
o inevitável sufoco,
o profundo oco onde mergulham
outras emoções de nenhum valor.
Olho no olho, mão na mão,
mais nada,
é tudo que traz
real colorido à estrada.
Talvez seja esta
a única verdade
.

…nem sempre…nem sempre…o amor com gosto de vulcão também está por aí, em plena ERUPÇÃO:

Impossível esquecer:
noite por demais estranha…
Das que não se esquece nunca…
Matriz do jamais vivido
Arte em “forma-perdida”.
No jogo do amor febril
o toque mais atrevido.
As ânsias em torvelinho.
O clímax se aproximando
e, no auge do carinho,
de repente, um stop inesperado.
Com infantil olhar maroto
ele observa o efeito…
Meio sorriso nos lábios,
quer saber o que acontece.
Ah! Antes não o tivesse feito…
Um turbilhão, um espanto,
tempestade, terremoto…
O desejo interrompido
transformou-se em transgressão.
Choro, pranto, desespero,
soluços em profusão !
Murro…tapa…beliscão…
O espanto mudou de lado:
De olhos arregalados
o sorriso perde o rumo.
Tenta retomar o prumo…
Agora é tarde demais!
Inundação de emoções…
Difícil de controlar.
Volta a fita do começo…
Voz mansinha, sussurrada,
mãos afagando cabelos,
ternura…cuidado…zelo…
Assim se trata a criança
de quem foi surrupiado
o mais precioso brinquedo.

Um esclarecimento se faz necessário: este blog não é um confessionário ou um divã de psicanalista; ele é, tão somente, e nada mais, uma vitrine de possibilidades.

O assunto é muito vasto. Provavelmente voltarei a ele…..

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Como conquistar a supremacia da Paz… SE

… as religiões se digladiam
… as gerações se rejeitam mutuamente
… as nações reforçam suas fronteiras
… os diferenciados poderes competem pelo seu próprio domínio
… as economias só sabem conjugar o verbo sugar
…o ponto fulcral ante o desconhecido é  a  desconfiança
… o sentimento dominante nos relacionamentos é o medo
… a ambição humana é insaciável
.. cada indivíduo e, por extensão, cada nação, acredita ter o monopólio da verdade
… a indiferença ou o desprezo é, muitas vezes, a retribuição ao gesto da mão estendida
… muitas vezes, a mão estendida esconde uma arma mortífera
Diante disso,  pequenas guerrilhas particulares e grandes combates políticos ou militares pipocam em todos os quadrantes deste nosso sofrido planetinha azul.
”Quantas guerras terei que vencer por um pouco de Paz?”
Bem sei da importância dos cientistas sociais que analisam causas e efeitos da funesta necessidade bélica dos seres humanos.
Claro que reconheço a competência desses cientistas que, com sua terminologia adequada, escrevem páginas e páginas esclarecedoras sobre o assunto. Nem lhes chego aos pés!
Mas há um ponto, um único ponto, um pontinho de nada, que considero de suprema importância, e sobre o qual eles nunca puseram os olhos.
E eu não posso me calar!
A POMBA como símbolo da Paz. Eis o que penso:
Presença incômoda
Antipáticos pombos agitados
invadem sem licença os telhados
sem terem sido convidados.
Fazem incômoda algazarra,
(pois eles são passarões)
espantando os passarinhos
que muito antes chegaram
para encantar o espaço
colorindo e musicando
as terras do meu jardim.
- Que tremenda diferença
diante dos colibris!
Pior que a chuva de excremento
(já nem posso usar a rede)
é esse canto agourento
que não significa nada,
só serve pra azucrinar…
Uma idéia me ocorreu:
Acho que a Paz não se anima
a descer por sobre o mundo
devido ao rosto constrangedor
que lhe foi atribuído.
Um símbolo que emporcalha tudo!
Pai do Céu que me perdoe
…do pombo quero distância!
E me lembre de, jamais,
amar como dois pombinhos!
Lamento se, de alguma forma, desagradei os meus leitores… porém tenho, como advogado de defesa, um alguém cuja voz possui um valor inestimável:

“Deus sabe que, entre gatos e pombos, eu sou francamente pela primeira espécie.Acho os pombos um povo horrivelmente burguês, com seu ar bem disposto e contente da vida, sem falar na baixeza de certas características de sua condição, qual seja de, eventualmente se entredevorarem quando engaiolados.”

(Vinícius de Morais)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Fim de semana com Glauber Rocha

By Dinah Hoisel

Tive um fim de semana indigesto.
Vi-me frente à produção cinematográfica Coleção Glauber Rocha / Fase 1 (2008), restauração e remasterização de parte da obra do badalado cineasta - um trabalho primoroso, digno de chinês.

Lembrei-me de meu saudoso pai.
Explico:

Nos idos de 1950, esteve ele a visitar o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. No livro de visitas, deixou registrada a sua impressão sobre o que viu:

Por museu d'arte quem quiser que tome-o...
Eu, não, que ao vê-lo, afirmo sem malícia:
Se não fosse um perfeito manicômio,
Certo, seria um caso de polícia...

Claro que não passou despercebida aquela ácida colocação.

" O Correio da Manhã, o jornal mais importante da época, publicou na sua seção de arte uma nota em que dizia ter Alberto Hoisel deixado no livro um pouco da sua ignorância, desrespeito, estupidez, desconhecimento da arte,etc.etc.
Ao saber ( um amigo lhe mandou o jornal) que seus versos criaram tamanho ranger de dentes,
o autor deu grandes gargalhadas..." ( Transcrito do livro Solo de Trombone (ditos & feitos de Alberto Hoisel - Autor: Antônio Lopes ).

Era assim, o meu velho... Crer sempre em tudo que digo
É tolice rematada
Sou dos que perdem o amigo
Mas não perdem uma piada

Voltando ao meu fim de semana, enguli de má vontade o "dragão e o seu "santo guerreiro". Se nordestinos se movessem naquele ritmo, São Paulo estaria, ainda, a apenas poucos metros do chão e não nas alturas dos seus arranha-céus...e ali, os céus cintilariam com o brilho de fulgurantes estrelas...E Caetano não teria gerado Sampa.

Mas a coisa pegou de vez em A Idade da Terra.
Posso até estar de acordo e admitir a necessidade varonil do cara em querer "mudar o mundo",
"salvar os fracos e oprimidos",etc.etc.- era a epidemia da época!
Mas...se o seu ' canto da sereia' para conquistar correligionários foi A Idade da Terra...Tô fora!
Não me parece " ...uma canção para acordar os homens"

Mais que isso. Dei graças a Deus por não ser 'intelectual' - embora na família possa encontrar quem milite nessa classe privilegiada e hermética. Eu não sou, nunca fui, nem tenho a veleidade de ambicionar dela tomar parte. Daí que, em não sendo intelectual, posso deixar rolar, com toda sinceridade e desinibição o meu juízo sobre o dito filme: DETESTEI!
( Um intelectual de carreira não tem coragem de confrontar seus pares! Pode ficar mal visto... Certamente aplaudirá a película.)

Na minha atual fase iconoclasta não poderia me omitir de publicar o que penso.
Vi, não gostei...mas recomendo.

Aviso: é preciso muito estômago para suportar três horas de non sense. Se existem metáforas e analogias inteligentes, elas desaparecem naquela incoerente colcha de retalhos sem sentido - é assim que vejo ! Para mim foi desesperador ...e haja dor!
Os senhores me perguntariam: "- Por que não desligou e interrompeu o sofrimento?!"
- Porque me basta ser ignorante, não estúpida.

Sem maiores comentários, vejam o filme. Ficaria gratificada sabendo que alguém concorda comigo...Se não, paciência!
Aliás, paciência é o que proponho, em lugar da pipoca.

Desejo-lhes um bom divertimento!

P.S. Por justiça devo dizer que, em outra época, vi Deus e o Diabo na Terra do Sol...Gostei muito!