sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Uma carta para Mountain View

Na mensagem anterior, escrevi:

Por mais pessoal e subjetiva que seja uma experiência, ela reverbera em pessoas que nem sequer chegamos a suspeitar...

Creio ser essa a nossa inclusão no tal "efeito borboleta".

Antes que o ano termine cuido de dedicar algumas palavras àqueles que me acompanharam por todo o tempo. São pessoas originárias dos incontáveis recantos apontados pela rosa-dos-ventos. De muito longe elas aportam neste nosso endereço. E me deixam feliz .

Só para relembrar as mais recentes visitas: Madri, Lisboa, Porto, Antuérpia, Tóquio, Bucarest, e ainda, Canadá, África do Sul, Bélgica, Austrália... e tantas outras.

Dos Estados Unidos vem gente de Atlanta, Sacramento, Seattle, só para citar algumas das inúmeras localidades que se fazem presente.

Mas guardo uma palavra especial para alguém cuja fidelidade me comove de maneira também especial: Você, de Mountain View.

A sua presença constante é algo tão importante para mim que já entro no blog esperando encontrá-la. Tenho certeza: é a mesma pessoa que lá está!...E fantasio sobre o seu perfil, já que você não se identifica.

Será alguém jovem?
Ou alguém que já viveu o bastante para conhecer os momentos em que a vida torna-se nebulosa e obriga a reflexões muitas vezes doloridas?
Será homem?...ou mulher?
Certamente fala a minha "língua", nos dois sentidos: o meu idioma e a linguagem poética que revela-se exuberante ou, tantas vezes, doída.
Para estar tão presente é evidente que comunga com meus pensamentos e sentimentos. Não tenho dúvida: é um(a) amigo(a)...Alguém que anda de mãos dadas comigo, tão silenciosamente que já faz parte de mim, do meu dia-a-dia.

Fico imaginando sobre seu ambiente, sua cidade - Mountain View - um lindo nome!

Nasci e vivo, desde sempre, próxima ao mar. Muito próxima, mesmo. Apenas alguns passos me separam da praia...parece que ela vive a me esperar...e eu nunca compareço ao encontro. O mais que admito são as conversas sob os coqueirais, em barracas que servem iguarias e bebidas refrescantes, deliciosas, se não atingirem o consumo exagerado, claro!

Talvez por isso trago em mim uma "saudade" da montanha, dos rios, dos borques, das árvores, dos campos, das paisagens onde o cultivo das flores seja menos árduo do que neste clima tropical em que habito.

Não rejeito o meu espaço, muito antes pelo contrário...amo o sol inclemente, amo as chuvas de verão, aprecio a beleza do nascer e do pôr do sol no horizonte infinito que o oceano nos oferece...

Contudo, para mim, a paisagem do Paraíso inclui florestas...e cachoeiras...

Seria assim o seu espaço?

É como imagino Mountain View contornando você, minha amizade desconhecida, mas fiel!

Encerro o ano desejando aos meus leitores uma brisa suave como aquela que Dorival Caymmi canta:

"Ó vento que ondula as águas, eu nunca tive saudade igual...
Me traga boas notícias daquela terra toda manhã
E joga uma flor no colo de uma morena de Itapuã"...
É o que lhes desejo, a todos, de tão distantes paragens desse "mundo sem porteira"...ou sem fronteiras: Uma flor no colo, trazida pelo vento das Boas Novas, em todos os dias de 2012.

O meu abraço!

Claro! - Ao meu povo, do meu Brasil, de onde vêm tantas e tantas visitas, eu também desejo o que de melhor eu tenho para oferecer : o meu carinho!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Mensagem do coração

Existem VIAGENS e VIAGENS ..Nos últimos tempos tenho "passeado" por terras que só a mim dizem respeito. Será que isto existe mesmo?

Não creio.

Acho que quem se dedica e explorar a alma humana tem débitos com o pequeno, mas importantíssimo, grupo de ouvintes que lhe dá atenção.

O ano chega ao fim e é quase certeza que ainda me farei presente neste espaço.

"...Coisa que gosto é poder partir...melhor ainda é poder voltar quando quero!"

"Chegar e partir são só dois lados da mesma viagem...E a plataforma desta estação é a vida..."

"Pois seja o que vier...venha o que vier...Qualquer dia, amigo eu volto a te encontrar..." Milton Nascimento é o poeta da vez . E eu fico agradecida pela contribuição!

Viajo, sim, mas não demoro.

Por mais pessoal e subjetiva que seja uma experiência, ela reverbera em pessoas que nem sequer chegamos a suspeitar...

Qualquer dia a gente vai se encontrar...



domingo, 4 de dezembro de 2011

Prometi que voltaria ao tema  "Minha infância"...

Quando o caminho já se faz longo e a paisagem vivida vai aos poucos perdendo a nitidez, há sempre algo que fica indelével. Na maioria das vezes é algum momento admirável, lembrança que se reproduz com forte dose de encanto. De repente nos apercebemos sorrindo.

O poeta define: "Vontade de ver de novo alguém sabido chamou saudade", e outro completa com delicada poesia, falando de "um sonho lindo perdido na madrugada, quando a saudade vasculhava a gaveta do coração"...

Esclareço que não compreendo minhas lembranças como sonho perdido, nem mesmo como saudade.

Parecem mais uma foto com som e imagem, melhor dizendo,um filme com trilha sonora, no qual um bando de pirralhos cantava com gosto, sob a batuta de um indisciplinado maestro. Não havia cobranças...O que nos movia era o prazer de conhecer belas músicas e cantá-las como as entendíamos. Não havia limites. Ninguém temia nem recuava diante do desafio de um idioma estrangeiro... Assim era, como nos parecia! ...e estranhos "dialetos" iam-se sucedendo nas animadas noites, após o jantar.

Bastava um disco ( e eram muitos!) na "vitrola" e a função começava. Espetáculo diversificado, não havia escolha prévia. Tudo era bom: tango argentino,  românticas músicas italianas, a imensa variedade das deliciosas, e às vezes dramáticas , composições do nosso cancioneiro popular...e até, (podem crer!) óperas.

Não havendo Dvds, ficávamos por conta da nossa imaginação. As aulas de piano, extremamente metódicas, não se aproximavam, nem de longe, dos nossos "saraus" improvisados. Crescemos apreciando a Música e todo o bem que ela nos traz. Teoria, solfejo, harmonia, bemóis, sustenidos, bequadros, são coisas para os iniciados, nunca nos seduziram.

Costumo imaginar que, se em vez de piano, tivessem nos aproximado do violão, as coisas, digo, a vida  teria tomado um outro rumo...

"Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar"...

Naquele tempo (tem gosto de coisa sagrada!) apreciávamos e curtíamos adoidado a voz de Mario Lanza e o ajudávamos a gargalhar na ópera Pagliacci...ou  La donna é mobile,  Ave Maria, Santa Lucia, Granada, eram  canja para nossas gargantas e o nosso entusiasmo. Carlos Gardel e Nelson Gonçalves tinham espaço cativo no nosso "palco": quanto mais dramático o tango, mais sucesso fazia! ...Coração Materno, Porta Aberta e "dá-lhe" Vicente Celestino que, na preferência de meu pai, perdia para Francisco Alves. E tinha mais Orlando Silva, Carlos Galhardo, Silvio Caldas,  para momentos de seresta!

Dalva de Oliveira, Ângela Maria, benditas entre as mulheres. Ima Sumac, a princesa inca, com sua voz única! Dizia-se que ela aprendera a cantar indo para a floresta imitar os pássaros...e a nossa imaginação a acompanhava em suas andanças.

Não, não é saudade, é revivência. Basta que se ouçam  novamente essas canções , o tempo retorna e o filme começa.


A música clássica - assim eram chamadas aquelas tocadas pelas grandes orquestras sinfônicas recheadas de violinos,  violas, cellos, oboés, fagotes,trompetes e tubas, piano, harpa e o pretencioso prato, pontuando o arrebatamento! - hoje "dita erudita", escreveu um capítulo à parte na minha memória musical e afetiva.

Sei que não havia o objetivo de nos fazer mais "cultos" e sim mais sensíveis ao que nos torna felizes.

Grande homem, o nosso "maestro"!

Deixo para vocês um pouco da minha recordação.



Numa tradução livre:


Representar!
Ainda preso ao delírio não sei o que digo e o que faço!
E ainda...é do ofício...Esforça-te!
Bah!! És um homem? Tu és palhaço!!
Veste a fantasia e pinta o rosto de branco
As pessoas pagam e querem rir...
Se Arlequim te rouba Colombina,
Ri! Palhaço!
Alguém há de aplaudir.
Transmuta em graça o espasmo e o pranto!
Em soluços , o desgosto e a dor!
Ah! Ri palhaço! ...sobre teu amor dilacerado!
Ri da dor que envenenou teu coração!
Achávamos esta interpretação O MÁXIMO!!! E continuo achando!
Por outro lado, encontrei este vídeo maravilhoso e partilho com vocês, agregando delicadeza ao período festivo do ano que se finda.




Boas Festas para todos e um Novo Ano pleno de realizações!



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Uma nova manhã

Apenas uma segunda feira como tantas outras...e no entanto, quanta diferença!

O dia amanheceu tão lindo! Parece que somente hoje o Supremo Artista reencontrou a fórmula da manhã perfeita.


Após dias e dias, e mais dias ainda, de chuva torrencial, céu cinzento e doentio, uma melancolia generalizada ensombrecendo as plantas, o mar, os animais e as pessoas, enfim reaparecem o sol e um quase esquecido céu azul, num clima de renascimento envolvendo tudo.


As nuvens branquinhas percorrem o espaço numa brincadeira de crianças e a brisa suave acaricia, sem desmantelar, as flores e os cabelos.


É como se as manhãs de setembro tivessem retornado... os pássaros recuperaram seus cantos e uma expectativa de esperança brota, com força, no coração das pessoas.


VAMOS CANTAR:





quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Quando a infância retorna

Passei a manhã retirando a poeira da memória e deixando o pensamento vagar pelas boas lembranças da infância.

Descobri que o melhor daquela fase não se encontra nas brincadeiras em grupo, mesmo tendo em conta os muitos irmãos e vizinhos, unidos por um tempo em que não havia televisão ou, mais grave ainda, o domínio do computador.

Era um tempo de convivência... À noite os adultos, sentados à porta das casas, numa conversa diversificada, esperavam o sono chegar. Não se descuravam, entretanto, do contato com as crianças que, em volta, brincavam em tal algazarra e com tanta animação que o banho, antes de dormir, se fazia absolutamente necessário.

O movimento era a alavanca das brincadeiras e o suor, o resultante...o banho era o preço a ser pago , mesmo sob protestos. Picula, esconde-esconde, corrupio, estátua, senhora-dona-sancha, apareceu-a-margarida ("vou tirando uma pedra", lembram?).

Uma pena: tudo sumiu pelo tubo da televisão e pelos fios do computador.

Mas não há ninguém preocupado com isso, afinal as academias se multiplicam em todas as esquinas e o exercício físico está garantido aos jovens e adultos...As crianças podem esperar a sua vez. Será isto mesmo? Ou também já foram "cooptadas" pelos múltiplos instrumentos ? "-Com bom senso, claro!!"

Até a bola e o campinho, quando existem, não se orientam para o simples divertimento; se definem como "campo de experimentação" para a descoberta de futuro$ talento$.

Os jovens já não têm o menor interesse por utopias de cunho social: estão ocupados demais na busca dos ideais que lhes são apresentados: Beleza, Poder e Riqueza.

Um Ideal com foco no altruismo desviaria a atenção do egocentrismo, e o próprio umbigo não ocuparia o centro do universo...coisa fora de moda!
Os centros de beleza se multiplicam por cissiparidade e às meninas é permitida a frequência com a mesma regularidade que às suas mamães.
As academias são a febre da vez e as pessoas as utilizam com devoção. São os templos de adoração do corpo e sua geração espontânea se faz em progressão geométrica. Como escapar disso?
O desejo de subir na escala social é impregnado na infância com o mesmo cuidado com que, há gerações passadas, se inoculava na criança a vacina contra a varíola.

A "objetofilia"- paixão desenfreada pelas coisas e a necessidade incontida de possuí-las, é a tônica da sociedade de consumo, não por acaso, a nossa .O valor da pessoa é medido pelo tanto que ela conseguiu conquistar e acumular durante sua vida. Quanto mais cedo começar, melhor!

Decididamente estamos longe da mentalidade socrática - quando Sócrates, passeando pelo mercado da Grécia, foi questionado sobre o que buscava, respondeu:

"Estou apenas observando quanta coisa existe que não preciso para ser feliz"

(Teria havido mesmo esse episódio? Se não houve, deveria ter havido!) Fico a imaginar o espanto do filósofo caso pudesse passear pelos shoppings de hoje...
Olha só! Somente agora reparei o quanto escapei do assunto que me propus a comentar : as melhores lembranças de uma infância em que muitas eram as crianças, e grande era o tempo disponível para o exercício da convivência. O tema vai ter que esperar para ser enfocado em outra oportunidade. Mas posso ir adiantando: a música recebia atenção especial. E, como sabemos, a música possui uma excelente função aglutinante...



Vamos cantar:

terça-feira, 1 de novembro de 2011

11 do 11 de 2011

Desde sempre o ser humano sentiu a necessidade de medir o Tempo. Os ritmos da natureza serviam e ainda servem como referência para criar as medidas adequadas - o nascer e o pôr do sol, a época das chuvas ou do sol ardente, o movimento lunar e estelar, a transformação recorrente das plantas - como a mudança da flor em fruto ou o período em que o fruto está pronto para ser consumido, com sua cor e perfume tentadores... Tudo isto tem servido de medida pessoal, desde as mais remotas culturas agrárias. Depois vieram os calendários, para organizar as coletividades melhor constituídas.

Observar o tempo deve ter sido, também, uma forma magnífica de acompanhar a si mesmo, de ver-se e, lentamente, ir-se compreendendo como integrante da aventura Vida.

O nascer, certamente, é o instante da eclosão, da abertura triunfal de uma sinfonia única e intransferível. Tudo que vier a acontecer será em consequência desse momento.

Os místicos sabem, e buscam saber cada vez mais, acerca dos mistérios que envolvem esse acontecimento. Os cientistas também.

Contudo não é preciso ser muito curioso para intuir que a data 11 do 11 de 2011 é especialíssima e de forte apelo cabalístico, inspirando mágicas conspirações.

Como qualquer outro dia de qualquer outro tempo, seja passado, presente ou futuro, esse dia tem suas conexões e energias, suas coordenadas específicas e únicas, criando suas próprias causas (e efeitos) , influências e consequências, conquistas e derrotas...

É inegável: estamos diante de uma data especial.

Mesmo sem fazer parte da misteriosa fatia da humanidade que sabe ler nos búzios, nos astros, nas cartas, nas vísceras ou nas runas , eu garanto que o espaço sagrado e místico está em festa.

Fadas, anjos, santos, duendes, sacis, caiporas, orixás, ninfas e tantos outros elementais, seres mitológicos de todas as culturas, certamente se confraternizam num grande sabá, aproveitando a beleza e a força da Lua cheia, no desejo divino de que as energias benfazejas recaiam sobre o nosso mundo em geral , e em nossas vidas particulares, trazendo todos os benefícios possíveis. Que essas bênçãos recubram a nós todos e, em especial, aos que celebram seu nascimento nesta data.

Em Filosofia, a crise é o grande momento da superação.É o facho de clarividência que aponta novos caminhos ou nova maneira de caminhar. É a luz que esclarece as decisões e traz a força da conquista. O simples (ou complexo) fato de estarmos neste mundo já supõe a existência do conflito.

No Mahabharata uma afirmação ( dentre todas que lá se encontram) se destaca:

"Não se pode escolher entre a paz e a guerra, mas entre uma guerra e outra."

Façamos bom uso das nossa escolhas pois uma coisa é certa: nós nos gastamos na dança do espaço - tempo. Não há como fugir.

Há algum tempo vi -me diante deste deus e consegui mergulhar um pouco no seu mistério, o que me valeu a reflexão:

Em que direção corre o tempo?
Para trás ou para frente?
O tempo não corre, tola.
Tu é que te enganas sempre,
pois o sempre te contorna,
te deixa tonta, sem leme.
Pensando que o tempo se move,
te moves, à toa, no tempo...
Passado, futuro, presente
são uma coisa, somente.
O tempo que vês agora
é pingo de eternidade.
Mudasses tu tua lente
chegarias à verdade
tão clara, tão reluzente,
tão simples, tão evidente.

Vamos viver este dia com o cuidado de quem o admite único e irreproduzível.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Exupéry, a Flor e a Estrela


“Como tantos que leram O Pequeno Príncipe, eu também captei a simplicidade de sua mensagem e compartilhei a tristeza de Saint-Exupéry quando o herói-criança, que alcançara as profundezas de meu coração, foi obrigado a retornar a seu asteroide. Muitas vezes perguntei a mim mesmo, o que aconteceria a essa criança tão especial se continuasse a viver entre nós. Como seria sua adolescência? Conseguiria preservar a inocência de seu coração?” indaga o poeta argentino A. G. Roemmers.

As indagações acima são pertinentes, sobretudo quando se sabe que há novidades acerca do assunto.
Anuncia-se que a editora Fontana (Objetiva) está lançando uma continuação dO Pequeno Príncipe, com aval da Fundação Exupéry.
Que podemos esperar? - Uma bênção? Uma ameaça?
Sim, porque a maior exigência ( não explícita ) do mundo contemporâneo é exatamente o que sobra e se expande da personalidade do herói-menino, aquele cuja curiosidade o levou a buscar em terras estranhas o algo que ele queria trocar por toda riqueza de que era possuído: sua ternura, sua gentileza, sua inocência, sua amizade, sua boa-vontade diante do inesperado, seu afeto...
Os corações empedernidos de hoje precisam de um banho de simplicidade. Teria o novo livro a capacidade de preencher este vazio que invade e sufoca a sociedade dos nossos tempos?
Os objetivos de cada pessoa , atualmente, patinam na semelhança com os desejos dos personagens encontrados pelo nosso pequeno herói, em sua viagem pelo cosmo. Nunca os anti-heróis estiveram tão em alta!
Tentar reativar a mensagem do garoto, não tendo, o novo conteúdo, a firmeza e a beleza de um Exupéry, pode ser contraproducente...e cair no vazio, levando consigo a força do original! Isto é o que eu chamo de AMEAÇA.
É preciso confiar que vai acontecer aquele milagre que a sociedade humana espera e que pode ser definida pelo que escreveu um grande amigo ao se surpreender, lendo em idade inesperada, a preciosa parábola do escritor francês:
"Por incrível que pareça, só hoje, aos 64 anos, estou lendo O Pequeno Príncipe. E o mais interessante é que estou achando sensacional!" (C.S.Mascarenhas)

A minha colaboração para estimular a leitura do original, e, quem sabe, a sua sequência:


A Flor e a Estrela


Três e meia da manhã,

eis-me a grafar sentimentos.

Não posso escrever mais tarde

- a ideia, volátil, some,

não me convém adiar.


Viver é tirar a venda

- a arte mais sutil da vida.

No meu pensar peregrino,

descortino com clareza...

Recordo Exupéry,

sua história ingênua e bela.

Menino, estrela e rosa

- as luzes do seu destino.


Vagar pela vida a esmo,

sem amigo, sem roteiro,

sem cultivar uma rosa, sem tocar em uma estrela,

é não perceber o brilho,

o cintilar do caminho.


Deus me perdoe a blasfêmia,

uma dúvida me segue:

Será a sofrida ausência

de uma estrela e de uma flor,

na trilha dos passos seus,

o que levaria alguém

a reinventar um Deus?



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Evasão

Hoje encontrei-me comigo mesma e me achei muito chata. É isto mesmo: estou aborrecida e nem sei por que. Para minha sorte encontrei uma excelente companhia para consolar os meus desenganos. São capazes de adivinhar? Pois é ela mesma, a raínha do desconsolo, Aline Dichte !

Vejam só o que encontrei sob a minha porta, ela e sua maneira insólita de buscar contato ... Nunca encara de frente, usa de subterfúgios, de evasivas, como quem teme a clareza do diálogo. Mais uma vez a moça deixa que eu encontre a mensagem, como se acaso fosse.

Lá estava, sob a porta:

Um terreno ressequido ,

a dormência.

Um esquecimento.

Um nada enorme,

os olhos cegos por falta de luz.

Uma colheita perdida,

um cesto vazio.

Uma mentira!

Sob o terreno gretado

um gêiser recusa-se a explodir...

A dormência esconde a geena.

O esquecimento , uma farsa.

O enorme nada sonda o tudo...e cala.

O olho cego olha pra dentro...e chora.

Vida mais besta!

Quisera um trem para as estrelas...e partir...

Há de haver aquele lugar que o poeta intuiu,

onde as crianças cantam livres!


Minha querida Aline, hoje você, além de contar com todo meu apoio, conta ainda com minha concordância: também estou achando tudo sem sentido...

O mundo perdeu o colorido e a trilha sonora do dia parece um memento , um lamento, um réquiem...

Arre! Tomara que chegue logo o amanhã !

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Em preciosa companhia

Fora das minhas circunstâncias sou apenas metade de mim...( grata a filósofos e poetas!).

Sofro da ilusão de que vocês esperam que eu venha conversar. Aqui estou.

Encontrei hoje, em caderno antigo, uns versos que desejo repetir. Falam de uma agenda muito pessoal. Mudaram as circunstâncias, mas os sentimentos se assemelham muito.

Mário Quintana nos convoca a jamais datar poesias. O tempo cronológico é pouco importante quando se trata de sentimentos, disposições ...e indisposições.

Como afirma aquele pré-socrático filósofo, o rio nunca é o mesmo quando nele navegamos por duas vezes, mas nossas emoções de paz e guerra vão e voltam numa ciranda contínua, fazendo da alternância um ritmo constante.

Aquilo que um dia foi válido, pode-se repetir com vigor, nesta vida "cumprida a só", afinal "é de sonho e de pó o destino de um só, feito eu, perdido em pensamentos"...e exatamente isto é o que sobra para quem se rendeu ao imprudente ofício de fazer versos. Bons ou ruins? - é irrelevante.

Cotidiano

Francamente não entendo
a quem possa interessar
o jeito bem pessoal
como organizo a agenda.
Se vejo que a tristeza vem
ajudo a sua chegada :
leio João Guimarães Rosa.
Acompanho Tatarana
no Grande Sertão:Veredas,
naquele amor impossível,
naquele desespero mudo,
naquela tremida mão,
quase a alcançar o fruto,
mas sem poder alcançá-lo.
E a dor dilacerante
contida no arrependimento
de não ter falado a tempo
- um desperdício de Vida...
Se estou feliz, transbordante,
ouço música bem alto,
canto, rio, faço bolos,
distribuo chocolates
às crianças dos vizinhos,
dou mil voltas no jardim,
conto flores, rego as plantas,
observo beija-flores...
Sou boa pra todo mundo
...e a vida é boa pra mim!
Se acordo a televisão
(e prefiro não fazê-lo)
a dor ocupa meu peito
ao ver tanto descontrole.
O rio de desespero
que corre por sobre o mundo,
e corro a fazer poesia,
destilando a agonia
que invade o meu pensamento.
É dor! É tristeza! É pranto!
Não sei como o mundo aguenta
tanto descontentamento.
Às vezes a serenidade,
lenta, vem se aproximando
e me recolho ao sacrário
e ali me quedo, muda,
ou converso só comigo...
Nesta hora, o relógio não tem vez.
As horas passam sorrindo...Silêncio...
Com certeza sai poesia!
E assim se passam os dias
plenos de dor e alegria.
E curto cada momento
sentindo o gosto do azedo,
do amargo e, como convém,
degustando o doce, o ardente,
saboreando, com gosto,
o gosto que a Vida tem.

Este desabafo foi escrito no dia 8 de março de 2008, por uma curiosa circunstância, no chamado Dia Internacional da Mulher.

Ficaria bem satisfeita se meus leitores encontrassem e identificassem todas as referências contidas no texto...são filósofos, poetas, letristas da nossa música popular... e deixo um agradecimento especial a João Guimarães Rosa, companheiro de viagem, ao seu desamparado e desditoso personagem Riobaldo Tatarana... E a você !

sábado, 10 de setembro de 2011

11 de Setembro

A roda-gigante do tempo nos coloca, novamente, frente à trágica data.

Há dez anos, o mundo quedou-se estarrecido. Quem assistiu, mesmo de longe, ainda que pela televisão, não vai esquecer o assombro em que se sentiu mergulhado. O inacreditável acontecia ao vivo, a cores, em escala mundial, diante dos olhos arregalados do espectador.

Já não se tratava de ameaça ou ataque a um ponto qualquer da sociedade contemporânea, em um país periférico, ou sem muita expressão política (por mais terrível que isto seja), do mundo civilizado.

Agora o ponto fulcral, a alavanca, o ponto de apoio da sociedade de consumo, o coração da economia mundial fora atingido de morte.

Muita ousadia, indescritível atrevimento!

Que sopro forte e profundo!
Que sopro de acabamento!
Que sopro de fim de mundo!
(Cecília Meireles)
As torres de Manhattan

O castelo de cartas desmorona
e a dor se espalha como folha ao vento
A força destruindo a força
Ensanguentando o chão e o firmamento.
O espanto, o choque, o medo, o horror, a agonia.
Um ciclone cujo centro é o absurdo.
O inacreditável assombro envolve tudo
...e o pequenino ser se queda mudo.
A imensidão da onda faz sumir
aquele chão de suposta segurança.
De roldão a avalanche engole um mundo
e ali está o que sobrou após segundos:
Poeira, pó, fumaça, fogo, desespero...
Um sofrimento insano, perplexidade,
percorre a espinha dorsal da humanidade
que vê ruir, diante dos seus olhos,
o símbolo da força do dinheiro ,
O altar do poder, sacrário da ganância,
no qual um deus de ouro e pés de barro
é adorado
...e a conquista do sucesso é a promessa.
A hecatombe aconteceu inesperada
e o horizonte da ilusão foi devastado.
Bom seria que com ela desabasse
antiga forma de pensar, tão superada
que merecia ser, no escombro soterrada,
e, ali surgisse, nesta terra calcinada,
outra semente de esperança, mais sensata.
Que o terreno da brutal destruição
se torne campo onde a paz possa brotar
e uma nova consciência irradiar.
Levanta, ser humano, e reconstrói
Em outra base este teu mundo destruído
O teu irmão já condenou o que lhe dói:
tua vaidade, teu orgulho, tua riqueza.
Com isto tu feres, tu dominas e escravizas.
O enorme estrondo abalou a humanidade
fez destruir a ilusão
e a prepotência derreteu, sem compaixão.

Dura lição...é preciso comprender.

Que a história, ante o caos, saiba encontrar

um novo rumo, onde o menos valha mais

e o ter ceda lugar, enfim, ao ser.

A verdade possa andar, descalça e nua,

na consciência de que a Terra é toda sua

e a fraternidade possa, livre, acontecer.

O tempo continua passando... e o que se aprendeu com este acontecimento? O que mudou? De que se valeu a coletividade humana para encontrar melhores rumos no seu sofrido caminhar?

Vejo a lágrima que escorre
por cima da minha pena.
Ai! a pergunta é sempre enorme
e a resposta é tão pequena...
(Cecília Meireles)

Esta poesia, e os doídos versos de Cecília Meireles, são encontrados no meu primeiro livro: Canto e Contracanto( Quase diálogo com Cecília e Fernando), editado em 2007.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Livro do Desassossego

Hoje, para sentir-me "grande" e atingir horizontes não calculáveis, vou somente transcrever textos de Fernando Pessoa - no momento criativo do seu heterônimo Bernardo Soares - textos estes publicados no instigante Livro do Desassossego .

Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para t0d0s nós descerá a n0ite e chegará a diligência. G0z0 a brisa que me dã0 e a alma que me deram para g0zá- la, e nã0 interr0g0 mais, nem pr0cur0. Se 0 que deixar escrit0 n0 livr0 d0s viajantes puder, relid0 um dia p0r 0utr0s, entretê-l0s também na passagem, será bem. Se nã0 0 lerem, nem se entretiverem, será bem também .


********************************

Se escrev0 0 que sint0 é p0rque assim diminu0 a febre de sentir, 0 que c0nfess0 nã0 tem imp0rtância.
Faç0 paisagens c0m 0 que sint0.

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Verific0 que, tantas vezes alegre, tantas vezes c0ntente , est0u sempre triste.

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Aqui 0 que, crei0, pr0duz em mim 0 sentiment0 pr0fund0 em que viv0, de inc0ngruência c0m 0s 0utr0s , é que a mai0ria pensa c0m a sensibilidade e eu sint0 c0m 0 pensament0

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É d0ming0 e nã0 tenh0 que fazer.
Nem s0nhar me apetece de tã0 bem que está 0 dia.
G0z0-0 c0m uma sinceridade de sentid0s a que a inteligência nã0 se aband0na.

*****************************

Sint0-me velh0 só para ter 0 prazer de me sentir rejuvenescer.

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São muito ricos, na palavra de Fernando Pessoa, os pensamentos reveladores dos desassossegos que costumam alimentar os sentimentos das pessoas comuns e das especiais...Alguns são deveras fortemente pessimistas, mas hoje não me interessa reproduzí-los.

Um forte abraço para todos!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Poeta, a Mentira e os Girassóis

O olho vê
A lembrança revê
A imaginação transvê (Manoel de Barros)

...E esse mundo assim foi feito ( Sidney Miller)

CADERNO DE POESIA

Página primeira, novo caderno de poesia
Quantos já foram vencidos?
Quantos ficaram para trás?
E se não foram contados,
muito menos conhecidos.
Coletânea de aquarelas
Paisagens que refletem vidas,

em muitos casos aprisionando luz...

Suaves telas impressionistas
São momentos de jardins, raios de muitos sóis,
Cantos, músicas, encontros
São imagens coloridas
Um rastro iluminado, tal campo de girasóis.
Um rápido movimento,
Uma página virada
e o enfoque é alterado...

Ventos fortes, tempestades,
A paisagem se transforma
quando a alma se transtorna.
Fortes cores de cruel expressionismo
A transparência se esvai
O sombrio encobre a luz
Quebra-se o encanto, o otimismo,
Surge,com força, o tormento
São imagens distorcidas
E, nos céus, explode o grito ..
................................................................................................................
Contudo,
o consolo é a constante:
Saber do ir e vir flutuante,
Nada firma posição,
Que a única determinante
é a indeterminação!

Não é pouco importante a recomendação de Manoel de Barros:

"É preciso transver o mundo" , atitude que nos leva a diminuir o peso da realidade e aconchegar-se ao "olhar enviesado" do poeta... e assim "aumentar o mundo" no que ele oferece de melhor. Estaria ele aconselhando a mentir? E por que não?
"É preciso mentir para viver"


Ninguém enxergou melhor os girassóis que alguém que morreu louco...

domingo, 31 de julho de 2011

VITÓRIA de SAMOTRÁCIA

Ficheiro:Daru staircase Louvre 2007 05 13.jpg

Há momentos na vida que assumem uma importância inexplicável. Assim foi aquele encontro entre a Vitória de Samotrácia e eu.

No Louvre, no grande espaço só seu, Ela, com suas asas abertas, anunciava bem mais que as boas-vindas aos visitantes.

Dela emana um protesto contra todos os limites. Ou o anúncio de que sempre se pode atingir algo além. Ou aquilo que seu próprio nome celebra: um grito de vitória.

Jamais esquecerei a emoção que senti ao vê-la soberba, magnífica, soberana, absoluta.´

Quisera vestir, por dentro, a Vitória de Samotrácia

Mulher vestida de água e vento,

Alada, livre, asas distendidas, pronta a romper limites

...e a seguir em frente, destemida.

Por fora seria eu mesma, ninguém desconfiaria.

Dentro, outro seria o meu cerne, força, impulso, valentia.

Fazer do impossível, possível, por puro arrebatamento.

Perder a cabeça, se preciso, na conquista da vitória.

Que vitória? Não importa!

Importa saber-se indômita...

Não temer o inacessível...até alcançar o inatingível.

domingo, 24 de julho de 2011

Com Walt Whitman

De volta ao meu aconchego venho, na companhia de Walt Whitman, contar dois segredos que definem algo da minha maneira de ser. Ou será que estou enganada? Ou será que estou enganando vocês?

Walt Whitman (1819-1892) , poeta, ensaista e jornalista norte-americano, considerado como inovador e criador do "verso livre" e de desconhecido lirismo subjetivo, fez da sua poesia um hino à vida.

Foi ele mesmo quem aconselhou:

"Não faça citações nem referência a outros escritores. Não entulhe o texto com coisa alguma, deixe-o fluir levemente como um pássaro voa no ar , como um peixe nada no mar." Como eu não escuto conselhos, divido com ele esta minha mensagem.

Me disponho a passar para vocês

O GRANDE SEGREDO

Foi há muito, muito, muito tempo atrás
que aprendi a ler e a escrever,
terreno onde a poesia, um dia, iria brotar.
No entanto, tantos anos se passaram
para que alguma coisa viesse a acontecer.
Foi necessário uma vida, tanto caminhar,
rosário de vivências e...morrências,
Foi preciso aprender a enxergar
e só depois, com muita paciência,
destilar, gota a gota,
o sumo das experiências
no licor da vida refletida.
Mas não é na palavra (nem dita nem escrita)
que o esplendor ocorre.
O grande segredo, suprema revelação:
É no silêncio que a minha alma fala...
É no silêncio que a tristeza morre...

Assim eu penso, assim eu escrevo. E vejam o que escreve o nosso poeta, acima citado:

"O dito e o escrito não provam quem sou.
Trago a plena forma e todo o resto em meu rosto.
Com meus lábios calados
confundo o maior dos céticos." (W.W.)
"Eu me contradigo?
Pois muito bem, eu me contradigo.
Sou amplo, contenho multidões." (W.W.)

E eu, poeta menor, o acompanho nas minhas contradições:

Sim, sou soma
Soma de sustos e de sombras
Soma de anseios e silêncios
Soma...Sonhos? Não mais que sopros
Sopros sumindo no horizonte
Horizonte sem sustentação
Estranha sensação
Onde o horizonte?
Onde?

domingo, 10 de julho de 2011

Nana Caymmi em Ilhéus

Não era preciso sofrer de nenhuma crise de profetismo para prenunciar: será ótimo!

E foi mais que ótimo, foi EXCELENTE ! Uma viagem pelo SENTIMENTO, o elemento mais humano de que somos constituídos.

Uma mulher extraordinária.

Numa época em que somente as top-models têm autorização para figurarem sob refletores, Nana vem mostrar que ser cantora, interprete, é outro departamento.

A platéia não negou o acolhimento. Integração total. O conteúdo do repertório e a forma de expressão da artista fizeram a noite ser (lugar comum) memorável, com gosto de "quero mais".

Aquela mulher já, e não só, amou muito, como ainda é um turbilhão de paixões.

Seu rosto, seus olhos, sua boca, suas mãos e sobretudo a modulação de sua voz deixam claro uma pessoa no domínio, ou melhor dizendo, dominada pelas experiências amorosas. E embarcamos com ela neste oceano de tormentos e glórias do Amor, puro e simples. Parece que ela ama O Amor. E nele mergulha sem medos.

Tudo isso independe de idade. Lembram Caetano quando canta sobre o artista?

"...o tempo passa e ele nunca envelhece"...É por aí que Nana passeia e nos leva consigo.

A apresentação começou com uma homenagem ao pai, sua primordial referência. Marina, Não tem solução, João Valentão, Nem eu, Dora, Só louco...

Depois se reportou a alguém que tem perdido, criminosamemte, o lugar na mídia. Cantou Por causa de você, Castigo...Quando retornarão aos poemas de Dolores Duran?

Aldir Blanc e Cristovão Bastos receberam destaque: Resposta ao vento, Nossa canção, Contradições...Navegou pela cultura irmã nos poemas de Agustin Lara, até me apresentou letras que eu desconhecia.

E mais: Paulo César Pinheiro, o gigante da poesia, com melodia de Dori( Sem poupar coração), Roberto e Erasmo - Não se esqueça de mim.

Devagarzinho ela foi dando confiança à platéia, fazendo-a perder a timidez. A princípio esperava-se o final das músicas para aplaudir(muito)...aos poucos cantávamos baixinho...contudo, ao se aproximar o fim do show, o canto do "nosso coral" esteve pra lá de entusiasmado e cantamos na força da emoção: "Minha jangada vai sair pro mar...Eu sei que não estou sozinho...Resposta ao vento..."

E quem não chorou durante, creio que não resistiu a Charles Chaplin: "Sorri quando a dor te torturar"...com a qual ela pôs um ponto final. Mas prometendo voltar a Ilhéus.

Assim seja!

A minha noite terminou com o show, tendo que me desculpar com a"thurma" que desejava esticar um pouco mais. Da minha parte, estava pra lá de satisfeita.

Aliás, se ela quisesse continuar cantando as tantas melodias das quais senti falta, eu ainda estaria lá, a ouvir.Como estou agora a ouvi-la pela internet.

Acalanto, Mudança dos Ventos, Suave Veneno, Catavento e Girassol, Canção da Volta, No analices, Insensatez, Por toda a minha vida, e...e...e...é um não acabar mais...

Quem quiser saber mais leia o deixoler.wordpress.com de Anabel.

Até a próxima...Beijo.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

BELEZA, VERDADE, SABEDORIA


As Três Deusas

" A que religião você pertence?"
É uma questão pertinente em meu viver.
E me coloco, às vezes, reticente.

É tão grande o meu respeito
ao Deus dos outros que,
quase que continuamente,
os faço meus.

Posso dizer, são três as minhas devoções:
Amo a Beleza, a todo instante,
a cada dia,
com toda radiância que a envolve.
Dobro-me submissa à Verdade.
Busco enxergar o Sol da Sabedoria.
Por esses três caminhos
oriento a minha vida
sabendo-me claudicante
(claudicante, sim, mas nunca desistente)
neste exigente caminhar
de todo dia.
A Beleza,
feminina, envolvente,
disseminando encanto
ao seu redor.
Nunca recusa ao devoto
suas bênçãos.
Responde generosa a um convite.
Está presente,
sempre pronta a se entregar
…no pequenino mal-me- quer do campo,
no beija-flor que surge a revoar.
Em frutos maduros
que recurvam os galhos.
Na criancinha,
que quase beija com o olhar.
Nos belos cabelos brancos da velhice.
Em cada jovem
que consegue se enxergar
(há sempre algum que se se distorce
ao próprio olhar).
Ser um devoto da deusa Beleza
é possuir uma varinha de condão,
é transformar em encantamento
qualquer cantinho
que precise se encantar.
Mas, fique certo,
não é dela o primo passo.
Ela sugere, mas espera
o estender de nossa mão.
Muito cuidado,
ela é frágil, delicada,
qualquer descuido
ela pode se afastar.
Já a Verdade
é forte, avassaladora.
Costuma ser
constantemente recusada
- provoca muito medo a certa gente.
Não existe mais confiante construtora.
O que é firmado no alicerce da Verdade
não se corrompe
nem desaba em vendavais.
Se levantada
como escudo ou como arma
faz destruir impérios e catedrais
…e plantações cuja semente
é só mentira ou deslealdade.
A Verdade não é sutil
como a Beleza.
No momento certo ela se impõe
Brilhando alto, acima da falsidade.
Por fim, por sobre tudo,
desponta a Sabedoria
que não concorda
em ser, nunca, esquecida.
É meta a ser conquistada
passo a passo, devagar.
Se não se impõe à força
também não se retrai.
E pode ser
maravilhosa companheira de jornada.

No atual momento tenho-me dedicado inteiramente 
às exigências  da deusa Beleza, 
tentando utilizar a minha varinha de condão
 para organizar o meu cantinho, que precisa 
se encantar. Gosto de dar a minha face 
ao lugar onde moro...a minha casa  
é uma extensão do meu jeito de ser...
simples, alegre, confiante, colorida...nem sei mais...
O resto vem por acréscimo! Feliz retorno para todos nós.