sábado, 29 de janeiro de 2011

Maria Bethânia ...e o "milagre"

Se os meus leitores, amigos, vizinhos, parentes, passantes fortuitos ou contínuos, que transitam pelo meu cotidiano não sabem, poderão agora tomar conhecimento:

Eu adoro Maria Bethânia!

Ouso dizer: não com aquela tietagem fanática e infantil que se desintegra em gritinhos e desmaios ao aparecimento do astro que admira.

Não é assim.

Para mim ela funciona como alguém idealizado que faz e vive aquilo que aprecio com valor de missão, de sacerdócio: uma vestal, uma sacerdotisa da Palavra, esta sim, a minha Deusa preferida.

Do templo da sua vida ela canta, anuncia, divulga aos quatro ventos, a todos os pontos cardeais e colaterais, o que de mais profundo o ser humano já sentiu, sente, sabe ou desconfia, e que enuncia, propala e entoa sobre si mesmo.

Cada aparecimento seu é uma síntese do que a pessoa é capaz de expor, extravasar, exaltar, exalar, exaurir e explodir sobre seu próprio eu.

E eu, atenta, de longe ou de perto, silencio, mais do que aplaudo...

Suas canções, e sobretudo suas declamações, são trilha sonora para o meu dia. É a minha alma que a escuta.

Será que deu para entender e medir a minha posição?
Pois então vamos para o acontecimento da semana.

Minha amiga me convidou para ir ao teatro e assistir o desempenho de outra amiga sua, em determinada peça. Do outro lado da cidade, a uma distância e trânsito quase intransponíveis. Longe...longe... mas fomos.

Em lá chegando, o desencontro. A peça tinha sido suspensa e colocaram outro evento no horário: " MARIA BETHÂNIA...E A PALAVRA"


"Maria Bethânia... e a Palavra". Ela iria se apresentar em "evento reservado" para uma platéia especial de seletos convidados, incluindo até lugares marcados. Celebridades do mundo artístico, autoridades, sua infindável família, amigos incontestáveis... e o teatro Vila Velha é pequeno...

Neste espetáculo a diva celebra, com ênfase, A Poesia.

É, o tema, uma encomenda da Universidade de Minas Gerais para estimular a sua juventude a admirar e se apaixonar pela expressão poética.

O que deveria ser um gesto restrito e de curta duração, tomou proporções não imaginadas. Depois de se apresentar em outros palcos do país, Bethânia foi parar em Portugal. O que é de fácil compreensão, afinal ela já recebeu uma comenda como a grande divulgadora da obra de Fernando Pessoa.

E eu? Percorrendo as casas de disco tentando adquirir o C.D. que espero ver gravado. Até o momento ainda espero...

Mas, no meio do caminho, havia uma pedra: Eu, totalmente arrasada, estava ali, na entrada do teatro, a poucos passos do paraíso...e sem poder entrar, por motivos óbvios. Não tinha convite. Não era celebridade...nem autoridade...nem família...nem amiga...

Minha amiga, desconsolada e inconsolável, queria estrangular quem a informou errado.

- Vamos embora. Fulaninha vai ter que se explicar...isto não se faz!

E eu: "Não! Só vou depois que as portas se fechem...que tudo comece e que não haja mais jeito! Não é possível que eu esteja aqui sem uma razão admissível... Pode haver um milagre..." E houve!

Um carinha com carinha de anjo, veio quase gaguejando:

- "Senhores, eu gostaria de contar com a compreensão de vocês...posso permitir a entrada de alguns, porém não de todos...há alguns lugares sobrando...etc...etc..."após uns cálculos e inseguranças, ele definiu: "Entrarão quinze pessoas."

Em estado de suspense absoluto eu o vi contar... Eu era a 12ª pessoa, minha amiga, a 13ª; sua filha a 14ª e o namoradinho dela, a 15ª.

Podem tocar a 9ª Sinfonia de Beethoven: Eu estava dentro!!!

Já com as luzes apagadas, a Senhora da Palavra entrando triunfalmente no palco, sob aplausos, fui me sentar no balcão, a mais ou menos a oito metros de distância do magnetismo da artista. E os mínimos detalhes me foram oferecidos de bandeja.

Absolutamente inacreditável para quem sequer sabia que a musa estava na cidade!

Contudo, o coração resistiu...

Após a apresentação, um coquetel à altura de tudo o mais. Um luxo! Entretanto já nada mais me interessava. Estava plenamente satisfeita e em absoluto estado de graça...

Cavalgando nuvens, voltamos para casa...

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