domingo, 20 de março de 2011

Ouvindo MAIAKOVSKI

A poesia não merece o silêncio, caso o silêncio seja sinônimo de abandono. Tão diferente daquele silêncio fecundo, no qual as palavras dançam solitárias, voam, se sorriem e, aos poucos, se entrelaçam…dão-se as mãos e deixam transparecer idéias, sentimentos, emoções reveladoras…

Ainda que a terra esteja calcinada,

mesmo que o deserto se estenda a uma velocidade máxima,

ou que a aridez avance e se aprofunde gerando a esterilidade mais absoluta…ainda assim, resta um espaço onde a poesia pode brotar.

Mas é difícil fazer florescer palavras quando o sentimento é de mudez.

Os acontecimentos recentes vêm provar que a pequena gota viajante no bico do beija-flor pode impedir que a floresta desapareça sob a fúria dos incêndios.

Resta à poesia esperar…

Esperar pelo golpe de sorte que lhe traga o refrigério e o ressurgir necessários.

Ouçamos Maiakovski

Talvez quem sabe um dia

por uma alameda do zoológico

ela também chegará

Ela que também amava os animais

entrará sorridente assim como está na foto sobre a mesa

Ela é tão bonita

Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão

O século trinta vencerá o coração destroçado já , pelas mesquinharias

Agora vamos alcançar tudo que não podemos amar na vida, com estelar das noites inumeráveis .

( …e ecoa nos céus o grito dolorido da poesia)

Ressuscita-me!

ainda que mais não seja

porque sou poeta e ansiava o futuro

Ressuscita-me lutando contra as misérias do cotidiano

Ressuscita-me por isso

Ressuscita-me, quero acabar de viver o que me cabe…minha vida.

Para que não mais existam amores servis

Ressuscita-me para que ninguém mais tenha de sacrificar-se por uma casa, um buraco

Ressuscita-me para que a partir de hoje a família se transforme

e o Pai seja pelo menos o Universo

…e a Mãe seja no mínimo a Terra.

Será a vitória da POESIA sobre o buraco negro sugador de toda luz, de toda inspiração, de toda criação…

É a ressurreição.

Esperemos. É tempo de ressurgir…