sábado, 10 de setembro de 2011

11 de Setembro

A roda-gigante do tempo nos coloca, novamente, frente à trágica data.

Há dez anos, o mundo quedou-se estarrecido. Quem assistiu, mesmo de longe, ainda que pela televisão, não vai esquecer o assombro em que se sentiu mergulhado. O inacreditável acontecia ao vivo, a cores, em escala mundial, diante dos olhos arregalados do espectador.

Já não se tratava de ameaça ou ataque a um ponto qualquer da sociedade contemporânea, em um país periférico, ou sem muita expressão política (por mais terrível que isto seja), do mundo civilizado.

Agora o ponto fulcral, a alavanca, o ponto de apoio da sociedade de consumo, o coração da economia mundial fora atingido de morte.

Muita ousadia, indescritível atrevimento!

Que sopro forte e profundo!
Que sopro de acabamento!
Que sopro de fim de mundo!
(Cecília Meireles)
As torres de Manhattan

O castelo de cartas desmorona
e a dor se espalha como folha ao vento
A força destruindo a força
Ensanguentando o chão e o firmamento.
O espanto, o choque, o medo, o horror, a agonia.
Um ciclone cujo centro é o absurdo.
O inacreditável assombro envolve tudo
...e o pequenino ser se queda mudo.
A imensidão da onda faz sumir
aquele chão de suposta segurança.
De roldão a avalanche engole um mundo
e ali está o que sobrou após segundos:
Poeira, pó, fumaça, fogo, desespero...
Um sofrimento insano, perplexidade,
percorre a espinha dorsal da humanidade
que vê ruir, diante dos seus olhos,
o símbolo da força do dinheiro ,
O altar do poder, sacrário da ganância,
no qual um deus de ouro e pés de barro
é adorado
...e a conquista do sucesso é a promessa.
A hecatombe aconteceu inesperada
e o horizonte da ilusão foi devastado.
Bom seria que com ela desabasse
antiga forma de pensar, tão superada
que merecia ser, no escombro soterrada,
e, ali surgisse, nesta terra calcinada,
outra semente de esperança, mais sensata.
Que o terreno da brutal destruição
se torne campo onde a paz possa brotar
e uma nova consciência irradiar.
Levanta, ser humano, e reconstrói
Em outra base este teu mundo destruído
O teu irmão já condenou o que lhe dói:
tua vaidade, teu orgulho, tua riqueza.
Com isto tu feres, tu dominas e escravizas.
O enorme estrondo abalou a humanidade
fez destruir a ilusão
e a prepotência derreteu, sem compaixão.

Dura lição...é preciso comprender.

Que a história, ante o caos, saiba encontrar

um novo rumo, onde o menos valha mais

e o ter ceda lugar, enfim, ao ser.

A verdade possa andar, descalça e nua,

na consciência de que a Terra é toda sua

e a fraternidade possa, livre, acontecer.

O tempo continua passando... e o que se aprendeu com este acontecimento? O que mudou? De que se valeu a coletividade humana para encontrar melhores rumos no seu sofrido caminhar?

Vejo a lágrima que escorre
por cima da minha pena.
Ai! a pergunta é sempre enorme
e a resposta é tão pequena...
(Cecília Meireles)

Esta poesia, e os doídos versos de Cecília Meireles, são encontrados no meu primeiro livro: Canto e Contracanto( Quase diálogo com Cecília e Fernando), editado em 2007.


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