quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Exupéry, a Flor e a Estrela


“Como tantos que leram O Pequeno Príncipe, eu também captei a simplicidade de sua mensagem e compartilhei a tristeza de Saint-Exupéry quando o herói-criança, que alcançara as profundezas de meu coração, foi obrigado a retornar a seu asteroide. Muitas vezes perguntei a mim mesmo, o que aconteceria a essa criança tão especial se continuasse a viver entre nós. Como seria sua adolescência? Conseguiria preservar a inocência de seu coração?” indaga o poeta argentino A. G. Roemmers.

As indagações acima são pertinentes, sobretudo quando se sabe que há novidades acerca do assunto.
Anuncia-se que a editora Fontana (Objetiva) está lançando uma continuação dO Pequeno Príncipe, com aval da Fundação Exupéry.
Que podemos esperar? - Uma bênção? Uma ameaça?
Sim, porque a maior exigência ( não explícita ) do mundo contemporâneo é exatamente o que sobra e se expande da personalidade do herói-menino, aquele cuja curiosidade o levou a buscar em terras estranhas o algo que ele queria trocar por toda riqueza de que era possuído: sua ternura, sua gentileza, sua inocência, sua amizade, sua boa-vontade diante do inesperado, seu afeto...
Os corações empedernidos de hoje precisam de um banho de simplicidade. Teria o novo livro a capacidade de preencher este vazio que invade e sufoca a sociedade dos nossos tempos?
Os objetivos de cada pessoa , atualmente, patinam na semelhança com os desejos dos personagens encontrados pelo nosso pequeno herói, em sua viagem pelo cosmo. Nunca os anti-heróis estiveram tão em alta!
Tentar reativar a mensagem do garoto, não tendo, o novo conteúdo, a firmeza e a beleza de um Exupéry, pode ser contraproducente...e cair no vazio, levando consigo a força do original! Isto é o que eu chamo de AMEAÇA.
É preciso confiar que vai acontecer aquele milagre que a sociedade humana espera e que pode ser definida pelo que escreveu um grande amigo ao se surpreender, lendo em idade inesperada, a preciosa parábola do escritor francês:
"Por incrível que pareça, só hoje, aos 64 anos, estou lendo O Pequeno Príncipe. E o mais interessante é que estou achando sensacional!" (C.S.Mascarenhas)

A minha colaboração para estimular a leitura do original, e, quem sabe, a sua sequência:


A Flor e a Estrela


Três e meia da manhã,

eis-me a grafar sentimentos.

Não posso escrever mais tarde

- a ideia, volátil, some,

não me convém adiar.


Viver é tirar a venda

- a arte mais sutil da vida.

No meu pensar peregrino,

descortino com clareza...

Recordo Exupéry,

sua história ingênua e bela.

Menino, estrela e rosa

- as luzes do seu destino.


Vagar pela vida a esmo,

sem amigo, sem roteiro,

sem cultivar uma rosa, sem tocar em uma estrela,

é não perceber o brilho,

o cintilar do caminho.


Deus me perdoe a blasfêmia,

uma dúvida me segue:

Será a sofrida ausência

de uma estrela e de uma flor,

na trilha dos passos seus,

o que levaria alguém

a reinventar um Deus?



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