quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Quando a infância retorna

Passei a manhã retirando a poeira da memória e deixando o pensamento vagar pelas boas lembranças da infância.

Descobri que o melhor daquela fase não se encontra nas brincadeiras em grupo, mesmo tendo em conta os muitos irmãos e vizinhos, unidos por um tempo em que não havia televisão ou, mais grave ainda, o domínio do computador.

Era um tempo de convivência... À noite os adultos, sentados à porta das casas, numa conversa diversificada, esperavam o sono chegar. Não se descuravam, entretanto, do contato com as crianças que, em volta, brincavam em tal algazarra e com tanta animação que o banho, antes de dormir, se fazia absolutamente necessário.

O movimento era a alavanca das brincadeiras e o suor, o resultante...o banho era o preço a ser pago , mesmo sob protestos. Picula, esconde-esconde, corrupio, estátua, senhora-dona-sancha, apareceu-a-margarida ("vou tirando uma pedra", lembram?).

Uma pena: tudo sumiu pelo tubo da televisão e pelos fios do computador.

Mas não há ninguém preocupado com isso, afinal as academias se multiplicam em todas as esquinas e o exercício físico está garantido aos jovens e adultos...As crianças podem esperar a sua vez. Será isto mesmo? Ou também já foram "cooptadas" pelos múltiplos instrumentos ? "-Com bom senso, claro!!"

Até a bola e o campinho, quando existem, não se orientam para o simples divertimento; se definem como "campo de experimentação" para a descoberta de futuro$ talento$.

Os jovens já não têm o menor interesse por utopias de cunho social: estão ocupados demais na busca dos ideais que lhes são apresentados: Beleza, Poder e Riqueza.

Um Ideal com foco no altruismo desviaria a atenção do egocentrismo, e o próprio umbigo não ocuparia o centro do universo...coisa fora de moda!
Os centros de beleza se multiplicam por cissiparidade e às meninas é permitida a frequência com a mesma regularidade que às suas mamães.
As academias são a febre da vez e as pessoas as utilizam com devoção. São os templos de adoração do corpo e sua geração espontânea se faz em progressão geométrica. Como escapar disso?
O desejo de subir na escala social é impregnado na infância com o mesmo cuidado com que, há gerações passadas, se inoculava na criança a vacina contra a varíola.

A "objetofilia"- paixão desenfreada pelas coisas e a necessidade incontida de possuí-las, é a tônica da sociedade de consumo, não por acaso, a nossa .O valor da pessoa é medido pelo tanto que ela conseguiu conquistar e acumular durante sua vida. Quanto mais cedo começar, melhor!

Decididamente estamos longe da mentalidade socrática - quando Sócrates, passeando pelo mercado da Grécia, foi questionado sobre o que buscava, respondeu:

"Estou apenas observando quanta coisa existe que não preciso para ser feliz"

(Teria havido mesmo esse episódio? Se não houve, deveria ter havido!) Fico a imaginar o espanto do filósofo caso pudesse passear pelos shoppings de hoje...
Olha só! Somente agora reparei o quanto escapei do assunto que me propus a comentar : as melhores lembranças de uma infância em que muitas eram as crianças, e grande era o tempo disponível para o exercício da convivência. O tema vai ter que esperar para ser enfocado em outra oportunidade. Mas posso ir adiantando: a música recebia atenção especial. E, como sabemos, a música possui uma excelente função aglutinante...



Vamos cantar:

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